centrado no segundo pecado, mais negro que o primeiro, a vaidade. Eça de Queiroz,
através do autor textual Fradique, faz uma caricatura da vaidade e os seus traços
deformadores e irônicos, ele os faz através do campo semântico, do desvio de um
campo para outro.
No sexto e no sétimo parágrafos, a carta continua demonstrando e comprovando o
ponto de vista sobre a vaidade. No parágrafo anterior, escreve que para “vir no jornal”,
as sete linhas podem até maldizer e que para isso há assassinos que assassinam. Eis aí a
ironia: a vaidade e o desejo de se tornar público não escolhem classe social, nem raça,
nem crença...
Nota-se que existe um branco semântico, ao qual se pode atribuir um sentido, pois
esse espaço maior e em branco separa um pecado do outro, como se fosse um processo de
enumeração de gradação crescente, já que ele começa do pecado menor, para o maior, ou
do menos intenso, para o mais intenso: bem negro; mais negro e negríssimo. É
interessante como ele trabalha o negro e suas gradações, como se ele dissesse que todos
os pecados são negros, mas dentro da cor negra, um pecado é mais negro que o outro.
No oitavo parágrafo, Fradique aponta o último, derradeiro, extremo pecado,
consequentemente, este é, também o mais negro dos três, negríssimo: a intolerância, e
admite que já existe escola de intolerância, mas Bento ao fundar o jornal, fundará,
também, mais uma escola de intolerância.
Estar envolvido no processo comunicacional não é só entrar nele, é penetrar, isto
é, ir além, adentrar e chegar a perceber que, segundo Fradique, Bento tem que acreditar,
sustentar que fora do muro eles são velhacos, corruptos, depravados, imorais, “e
vastamente merecem o chumbo com que os traspassas”. É preciso ter a consciência
tranquila e poder agir, pois a notícia e a reportagem não têm hora, nem preferência e o
jornal tem o dever de informar independente de raça, credo, filosofia.
Em seguida, lê-se:
Das solas dos pés até aos teus raros cabelos, meu Bento, desde logo te atolas na
intolerância! Toda a idéia que se eleve, para além do muro, a condenarás como funesta,
sem exame, só porque apareceu dez braças adiante, do lado dos outros, que são os
réprobos, e não do lado dos teus, que são os eleitos. Realizam esses outros uma obra
(QUEIROZ, s/d).
Ao escolher uns e deixar os outros, nunca se admitirá que esses outros, que estão
sendo condenados, sejam os bons. Assim, a intolerância está no nível do radicalismo e