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Propomo-nos, aqui, a colocar em questão esta linguagem jornalística, percebida como
tal em qualquer idioma. Seja em sua prática discursiva mesma, sua produção cotidiana
de escrituras de notícias; seja
nas
e
pelas
“leituras” que lhe são próprias e/ou atribuídas
nas sociedades; seja ainda nas caracterizações que esta escrita deixa à mostra, visíveis
ou imateriais, ou “presentes por suas ausências”, no dizer de Michel Pêcheux (1997) –
“implícitos”. Caracterizações que dizem respeito, enfim, a ele próprio: o discurso
jornalístico, esta “linguagem transfronteira”.
Cada vez mais a mídia jornalística está presente e atuante em nossas vidas, em um
processo mais amplo que vem sendo denominado por alguns pesquisadores de
“midiatização da sociedade” (Fausto Neto, 2008); e que afeta também “outras práticas
sociais, no âmago do seu próprio funcionamento” (p. 92). Estudar, pois, este discurso é
ingressar e inscrever-se na intimidade mesma de um possível fenômeno midiático de
ampla repercussão nas sociedades contemporâneas. Isto é: analisar as condições que
possibilitam este tipo de discursivização que cada vez mais se espraia, socialmente,
inclusive, para outros campos de saber também produtores de práticas discursivas.
O discurso da notícia
O discurso jornalístico é hoje reconhecido e identificado (confusão à parte ou não)
como discurso da mídia. Isto ocorre, provavelmente, pelo interesse e a importância cada
vez maior da informação em nossas vidas. O que tem conferido ao jornalismo, à notícia,
presença diária, instantânea, permanente, quase íntima, em nosso cotidiano de
sociedades contemporâneas ao limiar do XXI. A notícia e tudo mais que vem com ela,
em sua periferia, suas franjas, bordas e interiores, como a transmissão, as sonoridades, a
locução, os gestos, títulos e manchetes, a disposição (dela notícia) na página de papel ou
na tela do portal da internet; bem como as imagens que nos chegam porque são notícias,
ou que as acompanham, assim como as distintas recepções, leituras, modos de ver e
ouvir, audiências... A notícia, pois, envolve a tudo isto em que, ao mesmo tempo, está
envolvida. “A notícia não discute, afirma” (Lage, 2001).
A linguagem jornalística é um discurso ao mesmo tempo plural e único, multiplicidade
de textos cuja formatação é praticamente a mesma, quase sempre, mesmo molde, com
seus
leads
e
subleads
oriundos do jornalismo estadunidense (Lage, 2004), a fim de