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são próprias não impedem e nem evitam, pelo contrário, que esta linguagem seja
também lugar de trama e conflito, em qualquer idioma. Até mesmo porque ocorre, se
realiza, acontece e se transforma através de discursos e palavras que produzem sentidos
no meio social, onde “não há discurso sem sujeito nem sujeito sem ideologia” (Pêcheux
apud Orlandi, 2002, p. 99).
Palavras, elas mesmas, como escreveu Mikhail Bakhtin (2002), “tecidas a partir de uma
multidão de fios ideológicos e que servem de trama a todas as relações sociais em todos
os domínios. (...) A palavra é capaz de registrar as fases transitórias mais íntimas, mais
efêmeras das mudanças sociais” (p. 41). Átomo de todo discurso, a palavra “é o
fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua
função de signo (...). A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social” (p. 36).
Bakhtin sugere uma reflexão bem instigante:
Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou
mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis etc.
A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou
vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que
despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida. (p. 95)
Palavras, pois, que são a materialidade da notícia na superfície do discurso que lhe (re)
constitui sentidos, significações, representações e imaginários, informações que por
tantas vezes calam vozes, despertam outras, surpreendem, tranqüilizam, apaziguadoras
ou não dos conflitos
em
torno,
junto
e
nos
quais se enunciam. Palavras sempre
portadoras de muitas ambigüidades, ou não; mas certamente sempre carregadas de
historicidades e grávidas de muitos sentidos (Gomes, 2010). Até porque se seguirmos o
poeta argentino Roberto Juarroz (2001),
Tal vez por eso
cada palabra o signo
debe volver a nacer constantemente en otra parte.
El lugar de una palabra
es siempre otro.
(p. 133)
Mas na linguagem jornalística nem sempre é outro o lugar da palavra. Pelo contrário, tal
discurso é denunciado pelas tantas repetições e mesmices com que se compõe e se
constitui, o chamado “martelamento da mídia”, como reclamou Bourdieu (1998); os
conteúdos e sentidos ideológicos impregnados nas palavras previamente, como nas