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observações acima do lingüista russo. Ou ainda características, como o uso de
“implícitos”, os “já ditos”, assinalados por Pêcheux (1997), que tomou de Foucault
emprestada a noção de “formação discursiva”, na “Arqueologia do Saber”, mas para
formular um outro conceito: o do interdiscurso, aquele discursivo “já lá”, “sempre lá”,
“conceito (...) cuja ‘objetividade material’ (...) reside no fato de que ‘isto fala’ sempre
‘antes, em outro lugar e independentemente’” (Maldidier, p. 51).
Para Pêcheux existe uma população de coisas já-ditas, um manancial de sentidos
produzidos historicamente que tornam possível “todo dizer”. É o interdiscurso, a
“formação discursiva” que se dissemina pelos dizeres como paráfrases, implícitos,
“memórias do dizer”. Formações que “não são blocos homogêneos”, mas com divisões
e fragmentações, “não idênticas a si mesmas”, cujas fronteiras se deslocam, e que se
cruzam, se interpenetram, se atravessam, como também se distinguem entre si, no
campo mais vasto dessas “formações discursivas” que, na análise de discurso por ele
proposta, são constituídas historicamente: “(...) o interdiscurso designa o espaço
discursivo e ideológico no qual se desdobram as formações discursivas em função de
relações de dominação, subordinação, contradição” (Maldidier, p. 51).
Para Pêcheux, todo discurso tem um sujeito e o sujeito do discurso é o mesmo indivíduo
interpelado enquanto sujeito pela ideologia, concepção emprestada de Althusser (1985).
É a ideologia que fornece as evidências pelas quais “todo mundo sabe” o que é um
soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve etc., evidências que fazem
com que uma palavra ou enunciado “queiram dizer o que realmente dizem” e que
mascaram, assim, sob a “transparência da linguagem”, aquilo que chamaremos o caráter
material do sentido das palavras e dos enunciados. (Pêcheux, 1997, p. 160)
Mas a notícia, diferente e independentemente da palavra, trata sempre de alteridades e
diferenças, do que atravessa fronteiras, excluindo-se da rotina social e de uma possível e
pretensa “normalidade” para instaurar-se em outro lugar: o da notícia. Isto é, a notícia
implica, necessariamente, em deslocamentos. “A notícia é sempre o outro, por isso,
tantas ‘vozes’ e ‘falas’ no jornal, na linguagem jornalística” (Gomes, 2010, p. 66).
A notícia trata, portanto, “do diferente, do inesperado, do que transgride” (ibid). A eles
que se diferenciam é dado visibilidade; mas a palavra, signo que lhe dá suporte, é a da
linguagem, do discurso jornalístico, ele próprio, lugar de conflitos, de tramas, disputas,