Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 293

algo tangível (sede, fome).
Aos seus pés
, revela uma imagem de uma mulher poderosa,
que subjuga o homem a ponto de fazê-lo beijar os seus pés.
Percebe-se que a sinopse situa a mulher boazinha como aquela dedicada aos
interesses masculinos, esquecendo-se dos próprios em prol do relacionamento, uma
prática comum do cotidiano, pois, apesar das “conquistas” e do espaço que a mulher
“alcançou”, a submissão feminina perante o casamento e o papel delineado que a esposa
ocupa vigora com força em nossa sociedade. A sinopse pretende romper com o discurso
da boa mulher e passa a veicular a imagem da mulher poderosa, dotada de sensualidade
e que tudo pode. Entretanto, ao situar a mulher nessa outra FD, acaba sacralizando
outra, talvez mais profunda, afirmando que a mulher só pode se realizar plenamente se
estiver junto a um homem. Assim, o homem que aparece pequeno e apagado na capa da
obra, na verdade, é o objeto a ser alcançado.
Considerações finais
A língua é relacionada com a exterioridade, com a história e com a ideologia. Ao
se estudar os sentidos (históricos/sociais) que a língua traz consigo, estuda-se a língua
produzindo sentido. Portanto, não se poderia considerar a língua enquanto um sistema
abstrato e nem mesmo neutro, pois a AD considera a língua em movimento, a língua no
mundo carregada de sentidos e como esses sentidos estão relacionados como uma teia,
interligados e polissêmicos. No
corpus
em questão, pode-se verificar que outros
sentidos o discurso pode evocar, mesmo que, de uma maneira “camuflada”,
cristalizando e naturalizando modos de pensar e maneiras de agir. Dessa forma, analisar
o discurso é perceber o complexo jogo de relações existentes na língua. “Portanto, para
se ler o olhar e a voz da propaganda, sempre plurais, é preciso ser também um leitor
plural (Gregolin, 1999a), capaz de desvendar o complexo jogo dos sujeitos que se
entrelaçam, se multiplicam, se (re)significam por meio das vozes da sedução no espaço
do icônico e do simbólico (Sandmann, 2010, p. 122)”.
A partir da relação do verbal e do não-verbal, percebe-se que a propaganda
analisada pretende instituir uma memória contrária àquela cristalizada sobre a mulher.
Entretanto, nas entrelinhas, ao mesmo tempo em que essa memória em que a mulher é
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