A bota também está relacionada ao poder de força, à imposição bruta, já que
subjuga o homem à sola da bota, ele está abaixo e submisso. O livro é a própria bota, já
que com bota a mulher é enaltecida e consegue alcançar seus objetivos, o mesmo
promete o manual. É a bota “botando” o homem aos seus pés, no chão, na sola, trazendo
a ideia de pisar (também no sentido de humilhar) o homem.
O homem retratado no livro aparece como um ser inferior, pequeno, sem cor e
submisso. Na história, a figura do homem é o oposto, sendo sempre retratado com
grandeza e superior à mulher. Apesar de parecer que a mulher descrita no manual deseja
conquistar o homem amado, ela quer mais, ela quer tomar a frente da situação, mas
deseja que ele a conquiste, que a galanteie. A imagem dele cortejando-a na capa do livro
aparece como se fosse a imagem de um homem idealizado, aquele que dispõe de
recursos para satisfazer os desejos da amada. Esses valores cavalheirescos, na verdade,
remontam a uma memória e a uma imagem cristalizada como ideal, romântica e cômoda
para as mulheres de hoje que precisam tomar a iniciativa e ir atrás de seus desejos. A
memória do cavaleiro é, na verdade, um retorno a uma imagem já instituída; como
afirma Pêcheux (1999), “No outro extremo, o choque opaco do acontecimento televisual
é também algo que não se inscreve, na medida em que está sempre ‘já-lá’, no retorno de
um paradigma pesado que se repete no interior de sua aparição instantânea” (p.55).
Devido às mudanças no comportamento feminino, em que as mulheres saem de casa
para conquistar o mercado de trabalho e consecutivamente a liberdade, fator que
modifica os papeis e tornam as mulheres mais independentes no relacionamento, o
homem ideal ainda é aquele que, mesmo com as mudanças, conquista, corteja, pois,
como é evidenciado na sinopse, ela o quer aos seus pés. Apesar de as mulheres estarem
em outra FD (a que permite que elas busquem educação, emprego e liberdade de
escolha), a FD que diz às mulheres que o homem deve ter atitudes cavaleirescos ainda
predomina; é a memória do amor romântico que se repete.
A rosa vermelha, símbolo da paixão, do amor e da sedução também está presente
na capa. Poderiam ser outras flores; poderia ser um presente; mas essas representações
não suscitam tantos sentidos e tanto significado como as rosas vermelhas. A imagem de
que a rosa vermelha é o objeto ideal para cortejar uma mulher é tão forte, que ainda hoje
se perpetua essa ideia; dificilmente se compram rosas cor de rosa, amarelas ou brancas
na situação da corte. A imagem da rosa vermelha como símbolo do amor e como