Considerações em AD
Contra o forte estruturalismo vigente em sua época, o filósofo francês Michel
Pêcheux lança em 1969 a “Análise Automática do Discurso”, representando, para
muitos estudiosos, a fundação da teoria enquanto disciplina. Nessa época, os estudos
partiam essencialmente de recursos semânticos e sintáticos para refletir sobre questões
referentes à compreensão textual, com o enfoque pautado em “descobrir” a intenção do
autor. A falha, segundo os pressupostos de Pêcheux, estaria na ignorância das condições
de produção, de não considerar elementos externos à língua, os quais influenciam
decisivamente na construção dos efeitos de sentidos. Dessa forma, opondo-se à análise
conteudística, a AD nasce com o propósito de explicitar o que está além da superfície,
da exterioridade materializada no texto; assim como assevera Leite (2001), “[...] a
exterioridade se inscreve no próprio texto e não como algo que está fora e se reflete nele
(p. 109)”. Dessa forma, a AD busca articular os elementos linguísticos, que compõem
os enunciados, com a exterioridade, o que rompe com a ideia de um sentido único preso
à superfície do texto, apontando, assim, para a polissemia e para a complexa relação
entre ideologia e história presentes na língua.
Presidida por uma tríplice aliança, a AD trabalha com três disciplinas: a
Linguística, que se constitui pela não-transparência da língua; o Marxismo, que afirma a
não-transparência da história; e a Psicanálise, que mostra a não-transparência do sujeito
(Orlandi, 2001). A língua é opaca, porque o sentido é constituído no e pelo discurso; ela
significa na junção constitutiva que a circunda, considerando os interlocutores, a