quem diz, por que, para quem e a partir de onde diz. Outros conceitos fundamentais para
compreender o porquê de o sujeito responder e agir de determinada maneira são a
memória discursiva e o interdiscurso. A memória é vista como o saber discursivo já
existente e que é possível retomar no momento do intradiscurso. O interdiscurso afeta a
memória, na medida em que fala em outro lugar, afetando o modo de significação dos
sujeitos.
Aliada às condições de produção, a(s) Formação(ões) Discursiva(s) permite(m)
compreender de que forma se dá a produção de sentidos e a sua relação com a ideologia,
como esclarece Pêcheux (1997): “Chamaremos, então,
formação discursiva
àquilo que,
numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura
dada, determinada pelo estado de luta de classes, determina
o que pode e deve ser dito
”
(p. 160 – grifos do autor). Ou, para Orlandi (2001, p. 103): “A formação discursiva
representa o lugar de constituição do sentido e de identificação do sujeito. Nela o sujeito
adquire identidade e o sentido adquire unidade, especificidade, limites que o configuram
e o distinguem de outros”.
As Formações Ideológicas (FI) comportam uma ou várias FD, as quais se
encontram interligadas e determinam, dada a posição que o sujeito ocupa, que
enunciados podem ser reproduzidos a partir de determinado lugar social. Na esfera da
publicidade, por exemplo, a FD fornece ao publicitário o que pode e o que não pode
dizer para persuadir o cliente a adquirir seu produto. Por mais distintas que sejam as
propagandas, elas tendem a obedecer a condições pré-estabelecidas, realizando, assim,
paráfrases que reformulam e dizem de outro modo o que é determinado. Já que as FDs
encontram-se interligadas, atravessadas por elementos externos, percebe-se nos
anúncios publicitários a presença de outras vozes, vindas de outras FDs, reforçando o
primado do interdiscurso sobre o discurso.
É importante dizer que a linguagem se assenta na tensão entre os processos
parafrásticos (o já-dito, a memória) e os processos polissêmicos (o que há a ser dito)
que trabalham continuamente o dizer, de tal modo que todo discurso se faz nessa tensão:
entre o mesmo e o diferente. E é por meio disso que os sujeitos e os sentidos se
movimentam e significam. A incompletude é a condição da linguagem: nem os sujeitos,
nem os sentidos, logo, nem o discurso, estão prontos e acabados.