nível do que causa escândalo, conduz o leitor para o sentido argumentativo, que encerra
ironia, pois o prodígio tem resquício escandaloso e é através da publicidade que a
vaidade se alimenta e se propaga.
O texto de Eça é tão bem costurado, tão coesivo, que a última palavra do
enunciado anterior, “vaidade”, é a base do enunciado seguinte, do quinto parágrafo: “O
jornal é, com efeito, o fole incansável que assopra a vaidade humana, lhe irrita e lhe
espalha a chama”. Costura vaidade com jornal, como se o jornal fosse o alimentador das
vaidades e a palavra que serve de termo comparativo é fole, que é um utensílio, cuja
finalidade é produzir vento para ativar uma combustão ou limpar cavidades. Mas, fole
sai do seu sentido literal, denotativo, para o sentido conotativo. Passa a ser o
instrumento insuflador da vaidade. Logo, a vaidade, substantivo abstrato, torna-se um
substantivo concreto, pois o fole só pode soprar algo concreto, palpável, visível, que se
tornou objeto de sopro do fole.
Continuando: “Nestes estados de civilização, ruidosos e ocos, tudo deriva da
vaidade, tudo tende à vaidade”. A estratégia de usar adjetivos binários, aparentemente
contraditórios, “ruidosos e ocos”, conduz o leitor para o sentido de que independente
dos estados de civilização, tudo deriva da vaidade e ainda, enquanto um adjetivo eleva
porque é ruidoso, barulhento, visível; o outro deprecia, é oco, vazio.
Se os reis construíam templos, monumentos, venciam batalhas para alimentar suas
vaidades, Fradique diz que a “forma nova da vaidade” é ter o nome impresso, é ter a
pessoa comentada no jornal, isto é, “Vir no jornal!”.
O que Fradique critica no século XIX continua no século XXI. As pessoas pagam
para aparecer nas revistas, na sociedade, pagam para ser entrevistadas. Por outro lado, e
o que talvez seja mais século XXI, é o fato de as pessoas receberem, para aparecer na
mídia, e se sujeitar à comunicação do grotesco para estarem no jornal, no rádio, na
revista, na televisão.
Esse pensamento de Fradique é muito atual: “Vir no jornal!” eis hoje a impaciente
aspiração e a recompensa suprema!”Além de irônico, ter o nome no jornal e vê-lo
impresso como uma recompensa, já é um prêmio, mas não um prêmio comum, um
prêmio maior, último, supremo – aparecer.
É interessante notar que Fradique coloca todas as classes sociais subjugadas à
vaidade. Em sentido gradativo, trabalha na estrutura semântica, com os verbos apetecer,