(2)(MB)Muito obrigado pelo seu carinho na carta de 22, recebida ontem(...)Esta
cartinha curta é apenas um sinal de que o afeto que me prende a você, - a você, continua
mais forte e fiel do que nunca. (GUIMARAENS FILHO 1974, p.142)
Constatamos que tais agradecimentos e desculpas não se referem a questões
críticas ou a estilísticas, mas a assuntos diversos, como em (1) e (2). O excerto (2)
exemplifica muito bem a relação entre Manuel Bandeira e Alphonsus de Guimaraens
Filho, trata-se da última carta de
Itinerários,
escrita em 25 de maio de 1967, o grande
poeta faleceu em outubro de 1968. Por outro lado, Mário de Andrade já no início das
cartas escreve :
(MA)Me abrace apenas e, por favor, não venha me falando nos meus livros nem se
interessando por minha saúde. Estas coisas me chateiam. (GUIMARAENS FILHO
1974, p.37)
Por meio desse trecho, inferimos que Mário de Andrade estabelece certa
distância pessoal de Alphonsus de Guimaraens Filho, mantendo as cartas no campo
técnico, do estilo, das construções poéticas e instituindo uma relação mestre x discípulo,
em que não há lugar para agradecimentos ou desculpas.
Considerações finais
Os trechos analisados permitem constatar a variedade de estratégias discursivas
realizadas pelos locutores das missivas, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, que
querem ser compreendidos e aceitos por Alphonsus de Guimaraens Filho, o interlocutor.
Os dois locutores adotam a cortesia
relacionada à norma social e à preocupação com
a preservação da face. O
s atos ameaçadores da face são muito mais recorrentes nas
missivas de Manuel Bandeira, o que denota uma preocupação maior do poeta em
relação à aceitação de seu discurso por seu interlocutor. Enquanto que Mário de
Andrade se atém a postura de mestre, outorgando a Alphonsus de Guimaraens Filho o
caráter de discípulo no mundo da poesia.
Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail (2006).
Os gêneros do discurso
.
Estética da criação verbal.
São
Paulo, Martins Fontes.