uma enfermidade que quase o matou. Ele, então, prometeu se dedicar à vida religiosa se
sobrevivesse à moléstia. Em maio de 1663, deixa a vida militar e decide tomar ordens.
Tornou-se pregador e fundou o seminário do Varatojo. O seu trabalho como pregador foi
criticado pelo Padre António Vieira, que o achava excessivo e teatral. Dos tratados espirituais
que escreveu destaca–se o
Tratado dos Gemidos Espirituais, vertidos de um pedernal humano
a golpes de Amor Divino
. As suas cartas foram compiladas no volume
Cartas Espirituas
(1ª
parte, 1684; 2ª parte, 1687) e alguns de seus poemas foram publicados na
Fênix Renascida
(1716, 1728, 1746).
Desde então, António da Fonseca Soares passou a ser Frei António das Chagas,
entregue ao apostolado de pregação. Uma missão que tanto o fazia pregar na Corte
portuguesa, na Academia de Coimbra ou nas aldeias sertanejas, como promover missões
populares.
Dedicou o resto da sua vida ao evangelho e a pregar a fé, com o ardor e a paixão
que o caracterizavam. Tornou-se pregador vigoroso e algo exagerado. Correu as terras do
Alentejo e Algarve em andanças missionárias. Estendeu as suas viagens de pregação ao centro
e norte do país, incluindo a Corte.
Em 1680, Frei António das Chagas desvincula-se da Província Franciscana dos
Algarves, no cumprimento das determinações do Breve Apostólico de Inocêncio XI, de 23 de
novembro de 1679. Passa a viver no Varatojo, convento que doravante e até 1833 passou a
Seminário Apostólico das Missões (da Ordem dos Franciscanos), com estudos e disciplina
apropriados.
Na sequência do prestígio apostólico do Varatojo, fundou em 1682 o Convento de
Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes, em Setúbal, para nele se formarem também
missionários. Faleceu a 20 de outubro de 1682, na localidade de Varatojo.
Autor de vasta obra literária, que vai da poesia aos sermões, o espólio de Frei
António das Chagas vale pela sua qualidade estilística e profundidade espiritual, muito
inspirada no poeta espanhol Luís de Góngora. A sua vida divide-se em duas partes, bem
contrastadas pela antítese do mundano e do desiludido.
Já convertido, dedicou-se ao canto da falsidade das coisas deste mundo, do nada
do próprio Eu e do consequente desengano. Esse assunto genuinamente cristão adequava-se,
no entanto, à estética barroca, dada a acualidade e a insistência com que foi tratado naquela
época. Todavia, o que é de salientar em Frei António das Chagas é que esses desenganos não
dissolveram por completo certo caráter espetacular que se adivinha no seu estilo de escrever e
de pregar.