Para a leitura dos seus textos, deve-se trabalhar com afinco na leitura de
manuscritos e se discutir questões relativas à autoria, pois outros Fonsecas chegam a ser
mencionados na época. Os referenciais teóricos de produção de Fonseca não são distintos de
outros documentos, estudados nos séculos XVII e XVIII. Todos recorriam aos modelos das
poéticas da Antiguidade Clássica, que serviram como uma base para qualquer tipo de
composição textual e eram interpretados a partir de um ponto de vista religioso e culto, já que
o clero dominava um grande conhecimento linguístico.
Vários autores relatam que Frei António das Chagas tinha um estilo próprio e
marcante em seus sermões, seja no púlpito ou em suas obras escritas, todas póstumas. A obra
Escola de Penitencia, e flagello de viciosos costumes, Que consta de sermoens Apostólicos do
muito reverendo padre Fr. Antonio das Chagas
é de 1687, mas só foi publicada em 1738, e
trata das matérias principais da penitência, úteis a todos os pecadores de que elas precisassem.
A influência da Igreja na vida dos cidadãos dessa época era muito grande e as pessoas se
preocupavam demais com a “eternidade”; como é o caso da obra de Vieira como instrumento
norteador para muitos de seus seguidores.
Pécora (2008) observa esse mesmo procedimento crítico aplicado à obra de
Bocage. Para ilustrar sua argumentação, usa como exemplos Nelson Rodrigues e Olavo Bilac,
este “desejava um Bocage limpo da lama que o século acumulara sobre seu gênio”; aquele
“apenas queria saber do chocarreiro”. Para o autor, o melhor a fazer é “deixar de lado essa
idéia de um autor que cabe recortar ou repartir e servir de gosto”. Em relação ao
Fonseca/Chagas é essencial seguir o conselho de Alcir Pécora, ou seja, não faz sentido
engrandecer a obra religiosa de Frei Antônio das Chagas, ignorando as composições escritas
por este autor na fase mundana; ou enaltecer a poesia culta escrita por Fonseca Soares
obscurecendo sua poesia vulgar. Assim, se pretendemos entender a obra deste autor a fim de
resgatar seu real valor, temos que analisar em cada parte (fase mundana, fase religiosa, poesia
culta, poesia vulgar, poesia e prosa religiosa) as regras de composição que norteiam decoro
específico de cada gênero e, ainda, notar os reflexos estilísticos peculiares ao autor atuando
em suas diversas composições, cotejando a prosa religiosa de Freia Antônio das Chagas com
seu coetâneo Padre Antônio Vieira:
Nascido na Vidigueira como António da Fonseca Soares a 25 de junho de 1631,
Frei António das Chagas teve uma importância literária maior que eclesiástica. Filho de um
juiz português e de uma mãe irlandesa, passou a sua infância e juventude no Alentejo e
estudou no Colégio dos Jesuítas em Évora, não tendo concluído os estudos devido à morte do
pai, quando António tinha apenas 18 anos. Foi então forçado a regressar à Vidigueira.