Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1272

(01)
(MA)Quando a gente encontra um homem, um ‘artista direito’, se fica num
medo danado de perder essa possível companhia, esse possível calor prá idade que vai
chegar. (GUIMARAENS FILHO 1974, p.15)
(02)
(MA)A sua colocação sintáxica é inaceitável na naturalidade de nossa língua, e
só existe como chavão parnasiano. (GUIMARAENS FILHO 1974, p.18)
(03)
(MA)O soneto é uma forma. Até psicologicamente o soneto é uma forma.
Vocês fizeram disso apenas uma fôrma um arbítrio injustificável porque não se
condiciona a uma técnica. (GUIMARAENS FILHO 1974 ,p.23)
Em (01) as construções léxicas são próprias de Mário de Andrade, tanto a utilização do
pronome ‘gente’, forma popular, quanto o ‘se’ que se configura como abreviação de ‘você’,
estão também presentes em outros textos andradinos, como Macunaíma. Mário de Andrade
atribui importância à troca de cartas por meio da construção metafórica: “calor para a idade que
vai chegar”.
Percebe-se ao longo das cartas que todas as vezes que Alphonsus de Guimaraens Filho,
em seus poemas, faz uso de estruturas poéticas clássicas, ou até mesmo quando o jovem escritor
incorre em erros sintáticos, há uma mudança no tom do discurso andradino. As construções
lexicais em (2) “sua colocação sintáxica é inaceitável” e em (03) “arbítrio injustificável”
denotam tal grau de formalidade.
As cartas entre escritores discorrem sobre temas relacionados à língua e à literatura, o
que podemos classificar como temática metalinguística. Destacamos também aqui a questão do
estilo, nas cartas pessoais há emprego de uma norma culta e existe uma liberdade em relação às
escolhas lexicais, o que também ocorre nas cartas entre escritores, contudo, devido às
características sócio-culturais dos interactantes, o discurso epistolográfico é mais rico
semântica, morfológica e sintaticamente.
As estruturas das missivas são semelhantes, apresentando data, vocativo, núcleo,
despedida e assinatura. A primeira carta de Mário de Andrade data de sete de novembro de
1940, partindo do Rio de Janeiro, Ladeira de Santa Teresa, 106, endereço que ele especifica no
canto direito. Utiliza como vocativo apenas o primeiro nome de seu interlocutor “Alphonsus”,
no máximo variando para “Caro Alphonsus”. Suas despedidas são comedidas: “com o abraço do
Mário de Andrade”, ou apenas “um grande abraço de Mário.”
As cartas de Manuel Bandeira também se estruturam de forma convencional, porém, há
um grau de intimidade maior entre ele e o interlocutor, muitas cartas são breves, semelhantes a
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