A partir do momento que a canção se caracteriza pela junção de um discurso
musicalizado, acredita-se que os elementos musicais podem sugerir interpretações ou
reforçar intenções com a linguagem verbal.
A construção do sentido textual sob a perspectiva semiótica dá-se pelo
percurso gerativo de sentido (PGS). Ele contém uma “sucessão de patamares, cada um
dos quais suscetível de receber uma descrição adequada que mostra como se produz e se
interpreta o sentido, num processo que vai do mais simples ao mais complexo”
(FIORIN, 2002, p.17). Este percurso é composto por três níveis: o fundamental, o
narrativo e o discursivo. Todos os níveis contêm uma semântica e uma sintaxe próprias.
O nível fundamental é caracterizado por abrigar as categorias semânticas
básicas na construção do texto. Essas categorias fundamentam-se numa oposição, por
exemplo: vida x morte, feminino x masculino, entre outros. Cada categoria semântica
recebe um valor positivo e negativo, o positivo é chamado de valor eufórico e o
negativo de valor disfórico.Esses valores não correspondem a valores axiológicos,mas
são os textos que os determinarão. Já na sua sintaxe, há operações que apontam a
negação ou asserção em relação às categorias semânticas na sucessividade do texto.
Dessa forma, este nível procura explicar a abstração do ato produtivo, do funcionamento
e da interpretação do discurso.
O nível narrativo, apesar de remeter imediatamente a narração, é caracterizado
pela narratividade que é “a transformação situada entre dois estados sucessivos e
diferentes” (FIORIN, 2002, p. 21), tendo que ter um estado inicial, uma transformação e
um estado final. Na sintaxe da narrativa há dois tipos de enunciados: o de estado e o de
fazer. O enunciado de estado estabelece uma relação de junção (conjunção ou
disjunção) com o objeto, já o enunciado de fazer exibe as transformações, passagem de
um estado a outro. Os textos, como narrativas complexas, estruturam-se numa
sequência de quatro fases: a manipulação, a competência, a
performance
e a sanção.
Na manipulação, “um sujeito age sobre outro para levá-lo querer e/ou fazer
alguma coisa” (FIORIN, 2002, p.22). Essa ação pode ocorrer por: tentação,
intimadação, sedução ou provocação. Na competência, o sujeito tem que ser dotado de
um saber e/ou poder fazer a fim de realizar a transformação central da narrativa. A
performance
é o momento em que se realiza a transformação da narrativa. A última
fase, sanção, é a constatação que a transformação aconteceu.