O plano musical traz características da figurativização de Tatit, em que
compreendemos o que é dito pelos mesmos recursos de uma conversa e também há a
tematização, quando há a valorização dos ataques consonantais e acentos vocálicos
(consequentemente a redução das durações) e procedimentos de reiteração.
A duração das notas coincidem e/ou se aproximam do entoar da fala. Por
exemplo, a presença de sílabas tônicas e átonas nas palavras promove o que Alfredo
Bosi (
apud
Ramires, 2010) chama de melodia da fala, pois haveria uma distinção na
altura dessas diferentes sílabas. Por isso, a escolha das alturas das notas musicais
corresponde a entoação do colóquio, não sendo sua disposição exagerada ou artificial.
Para Pietroforte, a melodia garante a coesão do processo narrativo pois
percorre, como uma curva, a extensão musical; e o ritmo, por sua vez, marca essa
extensão com acentos tônicos intensos. (PIETROFORTE, 2008). Dos compassos 25 a
30 a maior parte da melodia é monótona, ou seja, possui uma altura, um tom,
aproximando-se da fala e consequentemente demonstrando uma intimidação e
provocação por parte do sujeito enunciador:
No plano rítmico, o samba que tem uma denotação de festa, alegria, converte-se
em escárnio pelo assunto em questão. A duração das figuras de valores imitam
aproximadamente a mesma duração que usamos para entoar as sílabas. Quando temos
uma sílaba tônica, naturalmente ela durará mais na elocução do que a átona e isso ocorre
naturalmente na canção, especificamente nos compassos 8,9 e 10; 29 a 31 e 67 a 74. A
sincronia entre duração e altura ressalta de forma significante o propósito comunicativo.