Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 855

para que se possa esgotar durante a interpretação a diferença entre o horizonte passado e
presente da leitura” (
apud,
ZILBERMAN, 1989, p. 69)
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.
Conceitos fundamentais em Iser
Preocupado com as contingências das interações humanas, Iser recupera
diversos conceitos da psicologia social e da psicanálise sobre as interações diádicas,
extraindo de cada um a validade para a avaliação analítica sobre a interação do texto
com o leitor. Dentre esses conceitos, menciona as “
metaperspectivas
– minha visão da
visão... do outro sobre mim.
” (ISER, 1979, p. 85). Em vista disso, descreve o processo
de preenchimento do vazio resultante (“No-thing”, ou “nonada”
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) do cruzamento de
projeções interpessoais. Esse vazio pode corresponder à “inapreensibilidade experiência
alheia”, que nos conduz à ação interpretativa: “Disso resulta a necessidade do
julgamento interpretativo, que comanda e regula a interação” (ISER, 1979,p. 87). Nas
palavras de Lima (1979), “Na interação a dois, a cada parceiro é impossível saber como
está sendo exatamente recebido pelo outro. (...) A interpretação, portanto, cobre os
vazios contidos no espaço que se forma entre a afirmação de um e a réplica do outro”
(p. 23).
Mas Iser ressalta que a interação texto-leitor difere consideravelmente
dos modelos explicados pela psicologia ou pela psicanálise, pois o discurso não se
reestrutura frente à recepção e, além disso, o leitor
nunca retirará do texto a certeza explícita de que a sua compreensão é a justa. (...) Muito
ao contrário, os códigos que poderiam regular esta interação são fragmentados no texto
e, na maioria dos casos, precisam primeiro ser construídos (ISER, 1979, p. 87-88).
Dessa reflexão resulta a conclusão de que existe uma assimetria
fundamental na relação entre a obra e o leitor. “Diante do texto ficcional, o leitor é
forçosamente convidado a se comportar como um estrangeiro, que a todo instante se
pergunta se a formação de sentido que está fazendo é adequada à leitura que está
cumprindo” (LIMA, 1979, p. 24).
A comunicação no processo de leitura é, portanto, resultado dos vazios
constitutivos do texto, que são constantemente preenchidos pelas projeções do leitor.
Contudo, essas introjeções não são completamente particulares e aleatórias, mas os
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Muitas das citações feitas por Zilberman encontram-se em ensaios ainda sem tradução para o Português.
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Tradução de Lima.
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