Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 853

Zilberman retoma historicamente as teorias que passaram a colocar o
processo da leitura – antes matéria da filosofia, da teologia e da pedagogia – no centro
das preocupações dos estudos literários. Em seus trabalhos, localiza os alemães Hans
Robert Jauss e Wolfgang Iser, na década de 60 do século XX, como principais
expoentes da “reivindicação de uma teoria da literatura que leve em conta, primeiro e
primordialmente, o leitor” (ZILBERMAN, 2001, p. 57). Lembra, contudo, que nessa
mesma época a linguística também passou a se preocupar com o sujeito do discurso, a
partir do que vemos o surgimento da sociolinguística e da psicolinguística. Tomaremos,
portanto, como base para essa fundamentação teórica os conceitos desenvolvidos pelos
dois autores mencionados por Zilberman, ainda que apresentemos certa predileção por
citações de Jauss.
A Estética da Recepção proposta no texto da conferência de Jauss
(apresentado em 1967, mas reformulado pelo autor anos mais tarde) propõe um novo
modo de compreender a história da literatura. Recusando-se a estudar as obras pela
história de seus autores e dos estilos literários, Jauss entra em contradição com três
princípios da crítica literária tradicional: a obra literária não é fechada, concluída,
autônoma e independente das interpretações que dela são feitas; não é determinada pelo
contexto social de maneira unilateral e objetiva; e a evolução literária não é um processo
linear e contínuo.
Para Jauss, a historicidade de uma obra não está nos fatos literários
(dados biográficos do autor, influências de estilo, representação de uma época), mas na
história de suas leituras. Nas palavras do autor,
a qualidade e a categoria de uma obra literária não resultam nem das condições
históricas ou biográficas de seu nascimento, nem tão-somente de seu posicionamento no
contexto sucessório do desenvolvimento de um gênero, mas sim dos critérios de
recepção, do efeito produzido pela obra e de sua fama junto à posteridade, critérios estes
de mais difícil apreensão. (JAUSS, 1994, p. 7-8)
A proposta metodológica de Jauss para a análise de um texto traz em seus
fundamentos a hermenêutica literária de Hans Georg Gadamer
3
, que inclui três
atividades intelectuais no processo de leitura: a
compreensão
, a
interpretação
e a
aplicação
. Não se tratam de etapas propriamente subsequentes e independentes, mas
3
Ex-professor de Jauss que, em 1961, publicou
Verdade e Método
, cuja tradução no Brasil possui a
seguinte referência: GADAMER, H.G.
Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica
filosófica.
Petrópolis: Vozes, 1997
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