Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 81

sócio-histórico. Também compreendemos o enunciado como uma estrutura linguística
repetível, mas que discursivamente oferece deslocamentos de sentido.
Reiterando, Foucault (2004, p.32) afirma que o enunciado “é único como todo
acontecimento, mas está aberto à repetição, à transformação, à reativação. (...) está
ligado a enunciados que o precedem e o seguem.” Foucault (2004, p.136) define a ação
de interpretar como “uma maneira de reagir à pobreza enunciativa e de compensá-la
pela multiplicação do sentido; uma maneira de falar a partir dela e apesar dela.” O
discurso é constitutivamente polissêmico, heterogêneo.
Para que uma análise seja possível, é necessário que o discurso, definido por
Pêcheux (1997) como o “efeito de sentido entre interlocutores”, esteja materializado em
enunciados. Bakhtin (2003, p. 269) considera o enunciado como a “unidade real da
comunicação discursiva”. O enunciado, desse modo, não pertence ao nível da estrutura
linguística, mas sim ao nível do discurso. Foucault (2004, p.90) o define como o “átomo
do discurso”, pois o compreende como um elemento último e indecomponível, podendo
ser isolado em si mesmo e também estabelecer relações com outros elementos que são a
ele semelhantes.
Para Foucault (2004), o enunciado não é nem inteiramente linguístico, nem
exclusivamente material. É a unidade a qual nos permite verificar a posição-sujeito e
produzir sentidos reatualizando outros enunciados, o que o caracteriza como histórico e
heterogêneo.
Sempre que existe uma frase gramaticalmente isolável pode-se
reconhecer a existência de um enunciado independente, mas, em
compensação, não se pode mais falar de enunciado quando, sob a
própria frase, chega-se ao nível de seus constituintes. (...) Não se vê
como reconhecer frases que não sejam enunciados, ou enunciados que
não sejam frases. Entretanto, é relativamente fácil citar enunciados
que não correspondem à estrutura lingüística das frases. Até mesmo
uma equação é um enunciado. (Foucault, 2004, p.92)
Por essa perspectiva analisaremos mais adiante alguns enunciados pertencentes
ao discurso sobre a educação brasileira, o qual se manifesta de diferentes formas
produzindo diferentes efeitos de sentido. Para tanto, não é desnecessário que se conheça
um pouco das condições nas quais esses enunciados foram produzidos.
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