Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 80

discursos advindos de outras épocas e outros lugares sociais. Para Pêcheux (1988, p.
162), o interdiscurso é o “todo complexo com dominante das formações discursivas”.
Desse modo, o interdiscurso rege as relações entre as Formações Discursivas, as quais
compreendem, segundo Foucault (2004), um conjunto de enunciados que apresentam
entre si semelhante sistema de dispersão, regularidade quanto aos tipos de enunciação,
aos conceitos e às escolhas temáticas.
Para a Análise do Discurso, uma perspectiva homogeneizante é inconcebível.
Essa teoria compreende tanto o sujeito, quanto o discurso, como heterogêneos.
Consequentemente, as FDs (formações discursivas) e os enunciados também são
considerados heterogêneos. Essa heterogeneidade é justamente marcada pelo caráter
histórico e também pelo caráter de acontecimento concebido à língua e ao discurso pela
AD, visto que os efeitos de sentido são produzidos em retomada a outros sentidos. Para
a nossa análise é fundamental compreender esse caráter não-homogêneo dos discursos.
Segundo Pêcheux (2006, p.53), em
Discurso: estrutura ou acontecimento:
(...) todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro,
diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido
para derivar um outro ( a não ser que a proibição da interpretação
própria ao logicamente estável se exerça sobre ele explicitamente).
Todo enunciado, toda seqüência de enunciados é, pois,
linguisticamente descritível como uma série (léxico-sintaticamente
determinada) de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar a
interpretação. É nesse espaço que pretende trabalhar a análise de
discurso.
Assim, Pêcheux compreende a língua como o lugar da falha e do equívoco, pois
uma palavra não possui um sentido estável. Em
Ler o arquivo hoje
(1994, p. 62),
Pêcheux combate o purismo sobre a língua:
A materialidade da sintaxe é realmente o objeto possível de um
cálculo – e nesta medida os objetos linguísticos e discursivos se
submetem a algoritmos eventualmente informatizáveis – mas
simultaneamente ela escapa daí, na medida em que, o deslize, a falha e
a ambiguidade são constitutivos da língua, e é por aí que a questão do
sentido surge do interior da sintaxe.
O sentido de uma palavra se movimenta de acordo com as condições de
produção, as quais envolvem não só um contexto situacional, mas também um contexto
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