Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 680

Observemos alguns desses entendimentos colhidos nas palavras das personagens
de
O inferno
e na análise dos discursos dialógicos existentes na peça.
Discutindo um determinismo naturalista a dizer que o homem é fruto da raça e do
meio, a peça
O inferno
traz à tona pensamentos versados por Hitler, Rauschining,
Lazard, Weiss, Sade, Nietzsche, Capote, Williams, Fraser e Pound.
Em
Hitler m’a dit
(Rauschining),
O julgamento de Nuremberga
(Didier Lazard) e
O interrogatório
(Peter Weiss) podemos observar enunciados que pregam o
determinismo da raça.
Rauschining revela que Hitler se pautou na crueldade da Natureza para defender
o assassínio dos mais fracos. Lazard, por sua vez, conclui que a supremacia racial
divulgada pelos nazistas legalizou não só prazer advindo da crueldade, mas também o
extermínio de milhares de seres humanos que eram vistos como meras cobaias. Weiss,
por fim, frisa que o Campo de Concentração de Auschwitz foi construído pelos nazistas
não só para exterminar os que pertenciam à chamada “raça inferior”, mas também para
criar um mundo em que habitasse a crueldade praticada pelos que querem ser superiores
mesmo entre os inferiores.
Nas palavras do biógrafo de Pound, G.S. Fraser, podemos encontrar outros que
também defenderam a diferença hierárquica entre os homens baseados em um
determinismo. Jefferson e Mussolini, segundo os artigos de Pound, nela se pautaram
para governar, respectivamente, os Estados Unidos e a Itália. Hannah Arendt, segundo o
texto de Fraser, também a teorizou estabelecendo uma hierarquia que considera os
homens que pensam superiores aos que trabalham com a força física. Observamos que o
discurso determinista tomou aqui uma perspectiva diversa da defendida por Hitler, pois
os indivíduos não seriam divididos somente por raças superiores ou inferiores, mas sim
de acordo com as habilidades genéticas para exercer atividades superiores ou
inferiores.
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Orfeu traz a seu discurso a obra
Vontade de potência
, atribuída por muitos a
Nietzsche. Nesta o filósofo teria divulgado o pensamento naturalista de supremacia de
alguns e de não compaixão destes para com os “mal nascidos” (Nietzsche, s.d., p. 217).
Todavia, os pensamentos de alguns jurados e os estudos de textos de Nietzsche nos
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No livro
The Human Condition
, Arendt divide os homens em quatro categorias:
vita contemplativa
(literatos e filósofos),
vita activa
(que lutam em batalhas ou são os dirigentes),
homo faber
(os artífices
que direcionam o trabalho) e o
animal laborans
(os que exercem o trabalho braçal e repetitivo).
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