Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 677

O escrito declara que essa revolução conseguiu fazer com que o rei tirano não
mais exercesse seu poder, todavia não destituiu da pátria francesa quem sustentava a
monarquia absolutista: os altares erguidos a Cristo e às superstições religiosas.
Sendo assim, salienta o libelo, se os franceses querem a verdadeira revolução
republicana devem lutar não somente contra o poder do cetro real, mas também contra o
incensório católico e suas diversas manifestações. Destarte, explicita o escritor, o
homem que participou do progresso das luzes não pode negar “[...] que as religiões
sejam o berço do despotismo.” (Sade, 2003, p. 135).
Observa ainda o texto que a ausência de religião poderá trazer aos homens a falta
de um padrão moral a ser seguido. Contudo, um Estado republicano que se serviu da
guerra para obter o poder não pode exigir que seus indivíduos sejam morais. A
república, acrescenta o autor, precisa de atos de insurreição. A guerra foi o primeiro
desses e cabe ao cidadão praticar outros com o intuito de manter vivo o desejo de
liberdade almejado pelo republicano.
Nesta parte, o libelo analisa o assassínio segundo as leis da natureza, as leis
políticas e as sociais.
No que concerne às leis da natureza, o homem faz parte de um universo formado
por outros animais e por vegetais e, nesse sistema natural, a eternidade é impossível
uma vez que os seres precisam participar de uma renovação constante. Sendo assim, ao
matar um outro ser, mesmo que seja um outro homem, o assassino estaria apenas
seguindo uma das mais importantes leis da natureza, a da morte como forma de
movimento perpétuo.
Quanto às leis políticas, o assassinato é uma das grandes molas do poder
conseguido pelos estados. Para compreendermos esse raciocínio, cita-se o fato de que as
nações poderosas somente foram elevadas a este posto após realizarem os assassinatos
em massa promovidos pelas guerras.
Enfim, ao abordar as leis sociais, o libelo informa que somente uma monarquia de
tiranos é que necessita de um grande número de escravos para sustentá-la; na república,
pelo contrário, os homens precisam ser cada vez melhores e não em maior quantidade.
Ou seja, da mesma forma que “é preciso podar a árvore quando ela se enche de galhos”
(Sade, 2003, p. 168) e assim proporcionar que os melhores ramos fortaleçam a planta, é
necessário que o republicano tire os seres inúteis à pátria para que essa se fortaleça com
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