Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 676

grávidas para observação das reações do feto e o exame do funcionamento de armas
químicas em prisioneiros. Outrossim, como nos é contado no trecho copiado por Orfeu
em seu caderno, faz conhecer que os alemães utilizavam como matéria-prima para
fazerem colchões os cabelos de mulheres que iriam ser exterminadas em fornos
crematórios
Em
O julgamento de Nuremberga
,
os atos nazistas são enumerados com a
intenção de denunciá-los como crimes atrozes contra a humanidade. Tanto que, após a
frase citada por Orfeu, Lazard salienta que o extermínio cometido pelos nazistas “é tão
monstruoso, tão desconhecido na história até à vinda do hitlerismo, que foi preciso criar
o neologismo ‘genocídio’ para o definir.” (Lazard, 1965, p. 168).
Contudo, Orfeu, ao copiar esta frase em seu caderno, não sente aversão pelo que
foi feito nos campos de concentração. Ao contrário do que desejaria Lazard, retirando a
frase do contexto original no qual ela estava inserida, Orfeu deturpa o sentido do
discurso paradigma e o utiliza como palavras que o incitam a cometer ações tão
monstruosas quanto as do seu “Pai, Hitler” (Santareno, s.d., p. 64).
Sendo assim, apesar das aspas mostrarem a precisão das palavras citadas, como
um homem a formar com pedras alheias um outro mosaico, a intenção do discurso de
Orfeu é antagônica à do discurso original.
Para estudarmos o dialogismo como réplica das intenções do discurso original,
poderíamos analisar enunciados de Hitler pronunciados por Orfeu. Entretanto, se
seguirmos a mente santareniana, podemos verificar a presença de algumas ideias de
Hitler em outros “Adão míticos”, dentre eles, Sade.
Em certa ocasião, com o intuito de estimular um possível discípulo, Orfeu cita um
trecho da obra
A filosofia na alcova
de Sade: “Vamos resumir, que já é tempo: Deve o
assassinato ser punido como crime? Sem dúvida que não.” (Santareno, s.d., p. 114).
Naquele momento
Observamos que o trecho citado faz parte do libelo trazido por Saint-Ange à
alcova em que Eugénie, sua discípula, recebe os primeiros ensinamentos libertinos.
Intitulado como
“Franceses, mais um esforço se quereis ser republicano”
, o
panfleto é um apelo para que os cidadãos continuem a lutar pelos ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade que guiaram a Revolução Francesa.
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