Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 682

que o homem pode ser classificado como “revoltado” ou “criminoso”, quando age em
um mundo em que o poder do Deus católico perdeu, progressivamente, o sentido.
Albert Camus, citado por Orfeu em seu caderno, é quem, na obra
O homem
revoltado
, diferencia essas duas categorias de humano: enquanto o “revoltado” comete o
“crime de paixão”, o “criminoso” usa a filosofia dos verdadeiros revoltados para
cometer os “crimes de lógica”.
Sade, Lermontov, Ivan (personagem de Dostoiévski) e Nietzsche são vistos por
Camus como seres revoltados que representam não só a progressiva descrença no
catolicismo, mas também possíveis manifestações de paixão ao ser humano.
Na obra de Sade, Deus é negado por vias extremas: em uma época em que o rei
católico foi decapitado, o homem pode extinguir a autoridade divina aceitando suas
desmedidas manifestações de desejo sexual.
Em Lermontov, por sua vez, a negação absoluta de Deus ocorre pela identificação
que o poeta sente com Satanás. Vítima da ira divina, Satanás é um anjo caído do céu,
anjo cuja beleza reflete o triste ser que tem, na impossibilidade do amor, a ascese ao
Paraíso que lhe é eternamente negada.
Na personagem de Ivan Karamázovi, criada por Dostoiévski, a compaixão aos
homens menos afortunados proclama a liberdade do crime como manifestação contrária
à injustiça divina.
Em Nietzsche, por fim, o catolicismo e seu Deus são vistos de forma negativa,
pois enfraqueceram o homem forte, valorizando o sofrimento e a piedade. Além disso,
como forma de manifestar a paixão pelo ser humano, Nietzsche prevê, como vimos, o
nascimento de um super-homem que seja capaz de cultivar a coragem, o vigor e a
bravura como pontos positivos de uma humanidade realmente virtuosa.
Ou seja, cada um desses autores e/ou personagens possuem diferentes formas de
manifestar sua revolta contra a religiosidade que compactua com o sofrimento humano.
Sendo assim, como observa o procurador da rainha e alguns jurados de
O inferno
,
o
cultivo à sexualidade, ao amor pelo satânico, à compaixão e, por fim, ao próprio homem
superior perfazem enunciados diversos acerca do que motiva os “crimes de paixão”.
Em contrapartida, o ser a quem devemos chamar de “criminoso”, observa Camus,
encontra na ausência da lei divina e nos pensamentos dos “revoltados” as oportunidades
para cometer crimes hediondos.
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