Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 313

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Vamos aqui, então, partir da hipótese que permita-nos supor que a linguagem
jornalística – esta que é, conforme Lage (ibid), “transfronteira”, reconhecida em
qualquer idioma – é uma “prática discursiva”, inscrita talvez naquilo que Foucault viu
como “formação discursiva”: “grandes famílias de enunciados que se impõem a nossos
hábitos – que designamos como
a
medicina,
a
economia,
a
gramática” (2009, p. 42):
“Definir em sua individualidade singular um sistema de formação (discursiva) é, assim,
caracterizar um discurso ou um grupo de enunciados pela regularidade de uma prática”
(ibid
,
pp. 82-83).
A prática de dizer a notícia – desde o repórter contemporâneo, multimídia, aos
gazetistas dos
Avisis
, nas cidades italianas da Idade Média (Lage, 2004), aqueles que
levavam adiante a informação, a mensagem, notícia – implica, pois, em regularidades de
formas de dizer, uma discursividade tal, singular, “transfronteira”, cujas características,
por mais próprias e peculiares que sejam não conseguem evitar sua indeterminação, pois
discursividade que se produz na história, no meio social, sob irrupções, tensões e
correlações de forças, estando, portanto, tomada de disputas, dominâncias e resistências,
ao mesmo tempo em que portadora de memórias, esquecimentos, silêncios e
historicidades.
Sujeitos e sentidos da notícia
Em trabalho anterior escrevemos que “O que sai publicado no jornal, o que vai se tornar
memória possível de ser resgatada, reconstituída pelas páginas dos jornais arquivados
em bibliotecas, não é ingênuo e nem está somente sob o controle dos interesses políticos
e econômicos que o editam. O discurso jornalístico – notícias de jornal – é produzido
diariamente sob tensões, conflitos, escolhas, interdições e silêncios que também poderão
significar e ser notícia. A linguagem jornalística com o seu discurso acontece e atua na
produção social dos sentidos, isto é, na intimidade do imaginário social e da ideologia”
(Gomes, 2010, p. 59).
Ou seja, mesmo reconhecendo, com Lage, que a linguagem de jornal “transcende o
idioma em que as matérias estão escritas” e “mobiliza outros sistemas simbólicos além
da comunicação lingüística” (2004, p. 25), tais peculiaridades e caracterizações que lhe
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