Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 316

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resistências (ibid). Discurso este (o jornalístico) que, inspirando-se em Pêcheux e na
análise de discurso por ele proposta, Mariani (1998, p. 32) vai designar como
“assujeitado” ao “interdiscurso de uma formação discursiva determinada”, isto é, a uma
memória do dizer. Mas também um discurso que absorve e envolve, necessariamente,
aquilo que a autora define como “irrupções de sentidos”, e que chegam diariamente à
pauta do discurso jornalístico, alterando rumos e procedimentos de uma edição, como
um “tsunami”, um evento inesperado, fora de ‘pauta’ (Gomes, 2010, p. 84).
Este discurso, esta linguagem “transfronteira” é, como todo discurso, também lugar de
poder, de relações de força. E onde há poder há resistência (Foucault , 1996, 2009). Daí
o vazamento de vozes, sentidos que escapolem ao “controle” que toda sociedade impõe
ao discurso (ibid, 1996). E este discurso é, ainda, lugar de questionamentos,
interpelações e críticas, como as formuladas por Bourdieu (1998), em “Contrafogos”,
em que alerta ser “capital saber que uma parte enorme do que podemos dizer ou fazer
será filtrado, isto é, muitas vezes aniquilado, por aquilo que os jornalistas dirão” (p. 78).
Rosane da Silva Borges, ao pesquisar a cobertura da imprensa brasileira sobre a
temática das cotas para negros nas universidades, constata que “a repetição no discurso
jornalístico é tanto na forma quanto no conteúdo”: “E não se repetem apenas os
argumentos, mas as formas de dizê-los” (p. 251). Mariani (ibid) assinala que o discurso
jornalístico apaga/silencia falas e práticas divergentes ou antagônicas ao discurso
dominante.
Algumas conclusões preliminares
Sendo assim e retomando a questão inicial proposta por esta comunicação: quem é o
autor do discurso jornalístico? A quem ou a que sujeito atribuir a sua autoria? A um
sujeito histórico e social, e, portanto, como em Pechêux (1997), interpelado pela
ideologia? Para este autor, sujeito e sentido são produzidos
na
e
pela
história, ou seja,
são por ela determinados, não sendo, portanto, tão somente resultados de interrelações
individuais, como ele compreendeu as formulações de Bakthin. E mesmo “assujeitado
ao interdiscurso” das “formações discursivas”, o discurso do sujeito, em Pêcheux, é
sempre também lugar de resistência, por onde lapsos e atos falhos recobrem sentidos já-
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