Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 317

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ditos, por outros que vazam e se fazem aparecer na materialidade discursiva. Ex-aluna
do filósofo e lingüista francês, Denise Maldidier observa que
(...) De uma ponta à outra, o que ele (Pêcheux) teorizou sob o nome de “discurso” é o
apelo de algumas idéias tão simples quanto insuportáveis: o sujeito não é a fonte do
sentido; o sentido se forma na história através do trabalho da memória, a incessante
retomada do já-dito; o sentido pode ser cercado, ele escapa sempre. (...) Este
pensamento continua a trabalhar (...) ele permitiu a abertura de novas pistas na história,
em sociologia, em psicologia, por todo lugar onde se tem a ver com textos, onde se
produz o encontro da língua com o sujeito. (p. 96)
Em uma conferência sobre o tema “O que é um autor?”, apresentada na Sociedade
Francesa de Filosofia, em fevereiro de 1969, Foucault (2006) expôs que “Todos os
discursos, qualquer que fosse o seu estatuto, a sua forma, o seu valor, e qualquer que
fosse o tratamento que se lhes desse, desenrolar-se-iam no anonimato do murmúrio” (p.
70). No debate a que se seguiu, respondeu a questão sobre a existência do sujeito ou de
sua redução à função, afirmando que sua análise é a respeito “das condições que
possibilitam a um indivíduo cumprir a função de sujeito”.
Disse ele: “Seria ainda necessário precisar em que domínio o sujeito é sujeito, e de quê
(do discurso, do desejo, do processo econômico etc.). Não existe sujeito absoluto” (p.
83). O filósofo concluiu sua comunicação, tomando emprestado o discurso de uma das
personagens do teatro de Beckett que diz: “que importa quem fala, disse alguém, que
importa quem fala?”.
Referências bibliográficas
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal,
2ª edição, 1985.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Editora
Hucitec/Annablume, 2002.
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos. Táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
BORGES, Rosane da Silva. O já-dito e o não-dito: o papel da imprensa no debate sobre
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São Paulo: Summus, 2003.
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