Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 322

linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para
permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (SAUSSURE, 2006, p. 17). A
lingua(gem), para a AD, é a materialidade dos discursos, enquanto que Saussure (2006)
entende a língua como um fato social, não relacionando-a a importantes elementos do
processo comunicativo – a materialidade histórica e a ideologia, vitais para a teoria do
discurso. A AD não nega a concepção estruturalista saussuriana, , mas amplia a noção
de língua, inserindo-a efetivamente na perspectiva da interação social, desta forma, para
a perspectiva discursiva de Pêcheux “a linguagem é estrutura e acontecimento, tendo
assim de existir na relação necessária com a historia (e com o equívoco)” (ORLANDI,
2007b, p. 12). Assim, a linguagem é compreendida enquanto discurso, ou seja, efeito de
sentido entre interlocutores, quer dizer, “o sentido não está (alocado) em lugar nenhum,
mas se produz nas relações” (ORLANDI, 2007, p. 20), ou seja, o sentido não pode ser
pensado sob o viés da imanência, ele é atravessado pelos outros possíveis.
O discurso, então, é uma entidade abstrata e a língua, sua base material, palco da
manifestação da ideologia. Ele, portanto, “materializa o contato entre o ideológico e o
lingüístico e manifesta a existência de materialidade lingüística no interior da ideologia”
(ORLANDI, 2007, p. 22), representando os efeitos da ideologia e suas contradições na
língua.
Assim, os sentidos não se situam no nível da literalidade, deslocando-se entre
a paráfrase (repetição do mesmo) e a polissemia (o diferente, o plural), emergindo
devido aos processos ideológicos, caracterizando a linguagem como fenômeno não-
transparente, marcado pela incompletude. O processo de produção semântica é a
assunção, pelo sujeito, de uma posição ideológica, em um dado contexto histórico,
como se esse fora único e verdadeiro. Devemos entender, então, que uma das funções
da ideologia é estreitar as possibilidades semânticas do sujeito, o que nos remete ao seu
conservadorismo.
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DIREITOS PARA OS HOMENS: mas, quem são os homens?
Quatro são os discursos que atravessam os sentidos sobre direitos humanos na
comunidade virtual analisada. Palmilhando o pensamento de Francis Wolff (2009), da
Antropologia Filosófica, observamos a presença das idéias de quatro grandes
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