Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 308

tirou emprego e família dele, dando indireta para a diretora. A narrativa indicia o final.
Ele encena uma coreografia indígena e os soldados, que já estavam no telhado, acham que
ele está apontando a arma para as crianças e cometem o juízo ligeiro pela escuta do olhar,
pois a encenação não é o que parece ser, as crianças gostam dele e estavam se divertindo.
Querem que Sam se entregue no horário nobre. A valorização é da coisa, empresa
de comunicação, e não do ser humano inocente que cometeu um deslize. Se a diretora o
tivesse ouvido por cinco minutos e tivesse explicado a ele o porquê dele ter sido
demitido e o porquê do Cliff ter ficado, o fato não teria acontecido ou não teria
transitado entre os juízos ligeiros, vaidade e a intolerância e o instrumento de pressão
seria a palavra, a verbalização, nem teria dado motivos para a inferência e influência de
temas transversais como racismo, Cliff era negro, briga de egos entre Max e Kevin,
roubar matérias, o slogan de Kevin “o melhor âncora da emissora” etc.
Retornando a Eça, o terceiro pecado, negríssimo, é a intolerância. Em “O Quarto
Poder”, Max transitou entre um lado e o outro, ou seja, foi parcial. Os pecados são
cometidos, em função da lógica do mercado, isto é, a notícia precisa ser vendida. Para
vendê-la, a história paralela não é ética, é mentirosa e sequestrou a história de Sam.
Sam solta os reféns e Max sai para negociar a saída dele. Max promete voltar no
Museu e sair junto com ele e diz que testemunhará a favor dele, pois sabe que ele é
inocente e o quanto ele tratou bem as crianças. Antes que Max voltasse, Sam explode o
Museu.
Max ainda estava caído no chão quando a sua assistente vai entrevistá-lo para
descobrir o que ele sabe, ou quais foram as últimas palavras do Sam. Max pergunta pelo
Sam e ela diz que ele virou confete. Ele a ensinou o ofício, treinou tão bem que ela se
tornou imagem e semelhança dele e da mídia. Irônica, vaidosa, intolerante, agora, ela
busca o seu próprio furo e lugar ao sol.
Max, Kevin, Laurie, os policiais, a diretora, a TV, ficaram presos nos muros deles,
foram intolerantes, parciais, cada um julgando a seu favor, mas quem ganhou foi à
mídia – juntar Max e Kevin é igual a três pontos de audiência, cobertura exclusiva de
um repórter dissimulado e inescrupuloso que manipulou e persuadiu o público volúvel
quanto às pesquisas em relação ao fato (agora 32%). “Que fato?”. Afinal, na lógica do
mercado midiático é preciso ser rentável, custe o que custar.
1...,298,299,300,301,302,303,304,305,306,307 309,310,311,312,313,314,315,316,317,318,...1290
Powered by FlippingBook