Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 305

O décimo primeiro parágrafo e último, além de trabalhar com a função fática, que
mantém e facilita a comunicação e com a função conativa, voltada para o receptor:
“Mas escuta!” trabalha com a metalinguística, quando Fradique faz uma reflexão sobre
sua própria carta, comparando-a com a de Tibério (imperador romano), e ainda, critica o
processo retórico, chamando-a de “tremenda e verbosa”. A seguir, retoma a função
voltada para o emissor – a emotiva ou expressiva: “e eu tenho pressa de a findar, para ir,
ainda antes do almoço, ler os meus jornais, com delícia”. Mais uma vez a ironia se faz
presente, quando Eça/Fradique relaciona campos semânticos dos jornais, da leitura e do
almoço, colocando-os como dependentes de uma locução adverbial: “com delícia”, que
equivale a deliciosamente. Implicitamente, essa locução adverbial, conduz o leitor para
o sentido conclusivo que Fradique não vê o jornal como informação, mas ele lê o jornal
para dar risada, criticar, como algo divertido, mas que no final da história é um mal
necessário e muito sério.
A análise das cartas, através da tessitura linguística, aponta os aspectos
levantados: alteridade e identidade entre o criador (Eça) e a criatura (Fradique), como
também a relação e o pensamento de Fradique sobre a imprensa, a mesma que Eça tem
como correspondente em Paris.
Após revisitar o texto de Eça, cabe-nos indagar: para quem essa carta foi
endereçada? Que tempos eram aqueles que parecem acasalar-se com os nossos? A
leitura dessa carta traz-nos uma outra indagação: onde termina o fato real e começa a
ficção jornalística? Será a ficção a construção do real?
Após as considerações sobre o texto de Eça, passemos a ver o outro que nós
propusemos como parâmetro ao do escritor português.
Samuel Baily (Sam) é o personagem principal que perdeu o emprego de cinco
anos no Museu de História Natural, preocupado com a família e com o futuro, quer
conversar, negociar com a diretora do museu. Para se fazer ouvir, está com uma
espingarda e dinamite como instrumentos de intimidação e de poder. Por outro lado,
Max Brackett – repórter da KXBD tem a mídia como elemento de intimidação e de
poder e estava lá para entrevistar a diretora Banks sobre a causa dos cortes
orçamentários, sobre “o passado que encontrou a recessão do presente”. Uma professora
com seus pequenos alunos também estavam lá e acabaram se tornando reféns do Sam.
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