da postura partidária e fica do lado do interesse da maioria, isto é, daqueles que pagam e
daqueles que compram o jornal.
Para que a intolerância não pereça, Bento não poderá poupar “prosa nem músculo”,
isto é, seu trabalho será intelectual, redigir textos, e braçal, correr atrás da notícia,
participar da edição etc. Nesse enunciado, ele também fala do problema da intolerância
e do radicalismo, pois para os amigos tudo, para os inimigos nada, os amigos são os
melhores, os inimigos são os maus. Percebe-se a dicotomia do bem versus a dicotomia
do mal. A dicotomia do bem é tudo o que interessa, a do mal é tudo que prejudica e vai
contra os interesses. Ficar de um só lado é profundamente intolerante.
O autor termina o parágrafo escrevendo que Bento só enxergará o que está dentro
do muro dele e que fora do muro, os homens que vagam, ele só os verá como pecadores:
e quando entre eles reconhecesses S. Francisco de Assis distribuindo aos pobres os
derradeiros ceitis da Porciúncula, taparias a face para que tanta santidade te não
amolecesse, e gritarias mais sanhudamente: “Lá anda aquele malandro a esbanjar com
os vadios o dinheiro que roubou!” (QUEIROZ, s/d).
Tem-se, então, que esses pecados estariam enraizados, no Bento, que ele taparia a
face para não distinguir um santo de um mendigo, de um bandido e, ainda, caluniaria S.
Francisco, calúnia essa tirada de um juízo ligeiro, dois ceitis da Porciúncula, ou seja, da
porçãozinha de moeda portuguesa antiga, valendo um sexto de real, que ele distribuía
aos pobres. Aí ele gritaria com a fúria da intolerância e o acusaria de roubo. Era e é
assim o jornal: julga pela aparência, acusa sem investigar, sem documentar o outro lado
do fato, do santo...
Aos olhos de Fradique, a imprensa não é isenta, é oportunista, retórica, partidária,
fazedora de opinião e quanto ao lema: imparcialidade, desinteresse, que ele cita entre
aspas, é só um lema, não passa de demagogia e da necessidade de dizer sim ou não, de
interesses, de comutação, da empresa de comunicação.
O eixo deste oitavo parágrafo está centrado na intolerância. Há um dialogismo
entre Fradique e Bento, apesar da voz do Bento estar representada pela voz de Fradique.
Um argumenta e o outro refuta, mas Fradique usa estratégias discursivas, para persuadir
o amigo.
O nono parágrafo perfila Bento de S. não como seu amigo, mas como jornalista,
preconiza como Bento vai agir como jornalista e como dono de impresso. Com um
simples enunciado, sintetiza todos os pensamentos anteriores: “Assim tu serás no teu
jornal”.
