Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 23

[
EC:
candidato de quem?
MS: o seu ((riso))
EC: o meu candidato?
MS: é
EC: prefeita::
acabamos de falar da sua arrogância a senhora vem jogar arrogância assim
[
MS: pois é
EC:
uma pergunta válida que eu fiz
MS:
você fez uma pergunta válida e eu respondi
EC:
a senhora está sendo deselegante ao SUPOR
que eu possa ser ah ah que eu esteja votando no
Serra ou no Paulo Maluf…
a senhora devia ter respondido a pergunta dele
se no segundo
[
MS:
eu mesma sei… eu mesma sei
EC: no segundo turno a senhora vai:: se a senhora ficar em terceiro lugar qual dos dois a senhora vai
apoiar… (lin. 2413-2435)
Em (8), a polêmica instaura-se a partir de uma pergunta sobre qual adversário a
candidata apoiaria em um hipotético segundo turno, caso não tivesse votação suficiente
para disputá-lo: Paulo Maluf ou José Serra. Obviamente, Marta Suplicy recusa-se a
respondê-lo, manifestando, metadiscursivamente, o “desinteresse para desenvolver um
tópico”, procedendo ao emprego da repetição (
imagina se eu vou responder isso
(...)
não vou aceitar essa possibilidade de jeito nenhum eu não não tem chance de eu aceitar
isso…
) e “indicando outras fontes enunciadoras do discurso” para apoiar sua posição e
refutar o conteúdo preposicional da pergunta, além de recorrer à argumentação que
fundamenta o real mediante o raciocínio por analogia (PERELMAN; OLBRECHTS-
TYTECA,
Op. cit.
) (
é claro que não nenhum candidato responderia eu menos ainda
).
Seguem-se diversas perguntas espinhosas à candidata, advindas especialmente da
jornalista Eliane Castanhêde (observe, em trecho anterior, o exemplo (7)). Bastante
acuada, a entrevistada ataca a face da entrevistadora, jornalista e colunista do Jornal
Folha de São Paulo, acusando-a de parcialidade e colocando, por conseguinte, em xeque
a sua credibilidade (espera-se, cognitiva e ideologicamente, um jornalismo imparcial).
No entanto, a candidata não apresenta fatos que comprovem a sua assertiva, o que
enfraquece a sua posição. Daí a contra-argumentação da entrevistadora que, toda
permeada por incisas metadiscursivas, procede também ao ataque à face da candidata,
mas de uma maneira ainda mais forte: fazendo referência ao “processo dialógico que
envolve locutor e interlocutor” atinge, nos termos porpostos por Charaudeau (
op. cit.
), o
ethos de “humanidade” da entrevistada (arrogância), culminando com uma nova
atividade de policiamento interacional (
a senhora devia ter respondido a pergunta
).
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