No âmbito do visível, sobre um fundo totalmente preto, visualizamos o esboço
(estilização) de uns óculos, construídos a partir da junção das letras O e C (retiradas da
própria palavra óculos). Desses óculos aparecem apenas os aros na cor branca. Temos
aqui uma oposição cromática “preto” x “branco” que remete à oposição “escuro” x
“claro”, em que o escuro remete à dificuldade ou falta de visão, enquanto o claro está
associado à possibilidade de visão (poder enxergar).
Essa oposição cromática nos leva à oposição semântica fundamental (falta de)
não-visibilidade x visibilidade.
Na dimensão do legível, temos, além da expressão “Miguel Giannini óculos”, as
letras O e C com o acento agudo sobre o O estendido até atingir a letra C, recurso pelo
qual se constrói a figura dos óculos “O C”. Essa é uma construção que permite
transmutar as letras O e C (código linguístico) em óculos (objeto – figura do mundo
natural), portanto, tal relação entre o significado e a imagem é motivada por uma
relação entre um sistema simbólico e um semi-simbólico.
Nesse texto publicitário, cujo objetivo é anunciar um produto, o próprio objeto
(óculos) se expressa/apresenta e expressa/condensa o sentido do texto.
Ao trabalhar o sincretismo, neste texto, pelo uso de duas letras na construção de
um objeto o qual é o próprio elemento central do anúncio – os óculos –, o enunciador,
num modo próprio de dizer, procura despertar no enunciatário a sensação de que
“enxergar no escuro” só é possível ou é bem melhor com o auxílio dos óculos Miguel
Giannini, ou seja, o enunciador apela para e explora o sentido da visão do enunciatário
que sente um alívio e conforto ao focalizar os óculos na página – objeto que se sobressai
no fundo preto, o qual provoca uma sensação de embaraço e desconforto visual e,
consequentemente, uma tensão emocional.
Passando ao segundo texto publicitário, da revista
Veja
, publicado em
03/09/2003, faremos a leitura de um ambicaligrama criado por Roberto Fernandez, em
que se explora o contexto político-social internacional (Figura 7). Ao participar de uma
campanha publicitária da revista
Veja
cujo slogan é “Quem lê Veja entende os dois
lados. VEJA”, o ambicaligrama aguça a curiosidade do leitor e com ele trava um
diálogo que rompe as fronteiras do visual e do verbal.