Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1018

Diante deste texto sincrético, o leitor se depara com dois planos de expressão
diferentes que se combinam e, ao mesmo tempo, constituem-se em uma expressão
singular para a construção do sentido. De um lado, o desenho formado pelos signos
verbais, habilmente dispostos, propõe uma leitura icônica; de outro, a sequência verbal
delimitada pelo contorno da figura leva à leitura da palavra. Indissociavelmente, as
linguagens remetem a um significado (plano de conteúdo) exclusivo e unicamente
possibilitado pela configuração ovular proposta à disposição do texto verbal. Antes de
ser lido, no sentido sintagmático e linear de uma sequência verbal, o poema é percebido
visualmente por meio de elementos expressivos do desenho que simbolizam
plasticamente o tema abordado (GUIMARÃES, 2004, p. 22).
Campos e Freitas (2011), ao abordarem o conceito de caligrama, remetem ao
capítulo
O caligrama desfeito
, do livro
As palavras e as coisas
de Foucault, no qual o
autor arrisca expor a mecânica interna desse recurso, classificando-a, em determinado
momento, como um recurso expressivo que teria, a seu ver:
um tríplice papel: compensar o alfabeto; repetir sem o recurso de retórica; prender as
coisas na armadilha de uma dupla grafia (...) (se servindo) dessa propriedade das letras
que consiste em valer, ao mesmo tempo, como elementos lineares que se pode dispor no
espaço e como sinais que se deve desenrolar segundo o encadeamento único da
substância sonora. Sinal, a letra permite fixar as palavras; linha, ela permite figurar a
coisa. Assim, o caligrama pretende apagar, ludicamente, as mais velhas oposições de
nossa civilização alfabética: mostrar e nomear; figurar e dizer; reproduzir e articular;
imitar e significar; olhar e ler. Acuando duas vezes a coisa de que fala, ele lhe prepara a
mais perfeita armadilha. Por sua dupla entrada, garante essa captura, da qual não são
capazes o discurso por si ou o puro desenho (CAMPOS; FREITAS, 2011, p. 2).
Passemos agora ao conceito de ambigrama.
Definido como a representação gráfica de uma palavra que pode ser vista
rotacionada ou invertida horizontalmente com a mesma fonética ou representação
visual, o ambigrama é também uma composição visual que permite a mudança do
ângulo de observação, de modo que possibilite a leitura da mesma palavra ou até
mesmo de uma nova palavra diferente da primeira, porém construída com os mesmos
sinais gráficos.
Projetando uma ambiguidade visual, o ambigrama condensa em si uma sincronia
de expressão verbo-plástica a ponto de sugerir uma nova relação entre a palavra e a
imagem na construção do sentido, na medida em que possibilita um signo iconográfico,
que vai além do signo linguístico e, ao mesmo tempo, extrapola o signo visual.
Fenollosa, filósofo e estudioso do ideograma oriental, enunciou seu princípio básico:
“Nesse processo de compor, duas coisas que se somam não produzem uma terceira, mas
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