desculpa para não consumir a sopa e uma atitude de menina malcriada, há outras
questões a serem percebidas. A tira envolve um discurso implícito voltado para a
ditadura militar vivida na Argentina. Utilizando-se metaforicamente das galinhas (no
lugar de pessoas) e do caldo de inocentes (ao invés de sangue de inocentes) o autor usa
um intertexto de forma bastante implícita para se referir às mortes que aconteciam na
época da ditadura. Talvez o texto ao qual a tira se refere pudesse ser recuperado no
jornal em que a tira foi publicada ou por outros textos publicados nesse período. Porém,
como isso não é possível no momento, é necessário um conhecimento prévio sobre esse
assunto para fazermos as inferências pertinentes para a construção do sentido da tira.
Várias tiras da Mafalda abordam questões políticas voltadas tanto para a ditadura
militar da Argentina como também para acontecimentos políticos mundiais. Veja, a
seguir, outra tira de Lavado (1993, p. 338) que apresenta intertexto implícito:
Nesta tira, vemos dois senhores conversando sobre a incerteza do governo se
manter forte. Mafalda sentada, no primeiro quadro, no canto da porta ouve a conversa
com atenção. Logo, passa um carro na rua em alta velocidade, o que pode ser percebido
pelos riscos no veículo e acima dele, a poeira deixada para trás, as rodas um pouco
acima do chão, todos elementos indicando velocidade. Este carro por conter sirene,
autofalante, e pessoas vestidas como militares, presume-se ser um carro de polícia,
naquela época de militares que comandavam o país. A menina observa essa cena
também com atenção. No final da tira, vemos um balão do pensamento em que Mafalda
em tom irônico associa o veículo cheio de militares com um vidro de vitaminas, ou seja,
algo que irá fortalecer o governo e acabar com a incerteza que os senhores levantaram
no primeiro quadro. O fato dos militares conseguirem manter o governo forte remete à
ditadura em que se utilizavam da força, da violência, de repreensões para manter a
“ordem” e combater as pessoas consideradas “subversivas”. Desse modo, na tira em
questão, o intertexto não seria apenas verbal, mas também se constituiria em um