Bentes, Cavalcante e Koch (2008) e Koch (2009) postulam a existência de dois
tipos de intertextualidade. A primeira é a intertextualidade em sentido amplo
constitutiva de todo e qualquer discurso e a segunda é a intertextualidade em sentido
estrito que ocorre necessariamente pela presença do intertexto. Este tipo de
intertextualidade pode ser dividido em explícita quando há citação da fonte do intertexto
como acontece no discurso relatado, nas citações e nas referências, resumos, resenhas e
traduções; e em implícita que ocorre sem citação expressa da fonte, cabendo ao
interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto, como nas alusões,
na paródia, em certos tipos de paráfrase e de ironia. Neste caso, o leitor deve ser capaz
de reconhecer a presença do intertexto pela ativação do texto-fonte em sua memória
discursiva a partir de seu conhecimento prévio, pois se isso não ocorrer estará
prejudicada a construção do sentido já que ficará difícil suprir as lacunas do texto por
meio de inferências.
É relevante apontar que um texto humorístico pode valer mais do que um texto
escrito, muitas vezes, devido ao seu teor crítico, porém tão logo pode ser esquecido.
Romualdo (2000, pp. 41-43) aponta que o desgaste é inevitável, pois este tipo de texto
se refere a acontecimentos e personagens contemporâneos a ele. Com o passar dos anos,
o contexto social se modifica e ao revermos velhos quadrinhos ou charges podemos não
compreender a intenção e o humor desses textos. Portanto, é importante a reconstrução
do contexto por meio das relações intertextuais, mesmo se estando afastado
temporalmente do episódio. Juntamente com a compreensão, ressurgem o humor e o
riso. Nesse sentido é que Possenti (1998) argumenta que um texto pode oferecer várias
leituras para, em seguida, impor uma única leitura.
A intertextualidade, de acordo com Romualdo (2000), é frequentemente
trabalhada como linguagem verbal, principalmente no nível literário, mas também é
possível encontrar trabalhos que tratam do fenômeno entre textos visuais. Um estudo
das relações intertextuais das tiras da Mafalda proporcionará estender os limites do uso
do termo já que será possível analisar a intertextualidade entre textos de sistemas
semióticos diferentes. Tendo em vista a revisão teórica exposta, serão apresentadas a
seguir algumas análises realizadas a partir de sete tiras da personagem Mafalda
escolhidas para essa pesquisa.