Percebe-se que há também, por parte dos responsáveis pela publicação do
texto, neste caso, o jornal
Folha de S. Paulo
, um conhecimento das implicações para o
veículo que divulga os textos, uma vez que se entende que a “responsabilidade
jornalística e política” é do jornal.
Isso remete o leitor do manual a entender que o veículo considera que as ideias
manifestadas não serão assumidas apenas por aquele que assina o artigo, mas haverá
também um envolvimento daquele que dá suporte para elas.
Assim, pode-se dizer que os textos, manifestados em certos gêneros, são
formas de compreender o mundo, atribuir significados para as situações e os fatos que
ocorrem. Os gêneros se tornam, assim, formas de comunicar ideologia, visões de
mundo, e, desse modo, constroem significados para as coisas que os sujeitos acreditam,
compartilham, vivenciam nas diversas situações de interação social.
Os textos dão forma a algo que está, de maneira abstrata, no âmbito das ideias
dos sujeitos: o discurso. A relação entre texto e discurso se estreita quando se diz que o
texto é construído com base em uma organização discursiva. Isto quer dizer que o
discurso, materializado por meio de um texto, subjaz uma forma de pensar, de crer e ver
as coisas por uma determinada perspectiva. Mas isso não ocorre por meio de processos
individuais. O sujeito, produtor do texto, está em sua essência constituído pelas diversas
posturas a que teve acesso durante sua existência: os valores familiares que lhe foram
transmitidos, os lugares por onde passou, as escolas que frequentou, enfim tudo o que
fez parte de sua formação.
A visão de mundo daquele que escreve para o jornal não estará livre de tudo
que presenciou. Em qualquer manifestação discursiva, haverá também a manifestação
das posturas e das crenças de seu produtor. Nesse sentido, é preciso reconhecer que os
textos que circulam na esfera jornalística desfrutam de uma grande potencialidade para
o exercício da argumentação, tanto por parte de quem os elabora quanto de quem os lê.
Haja vista que as palavras “são condicionadas tanto pela organização de tais indivíduos
como pelas condições em que a interação acontece” (BAKHTIN, 2004, p.44). As
ideologias, então, operam no interior da formação do indivíduo e se manifestam por
meio dos textos.