Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 731

filiação discursiva e, em decorrência, favorece a compreensão do enunciado por parte
do interlocutor ao qual se dirige.
Os recursos linguísticos empregados de acordo com as intenções do locutor
fazem parte do que Mikhail Bakhtin denominou a
expressividade
do falante. Segundo
afirma, “todo enunciado (...) é individual e por isso pode refletir a individualidade do
falante (ou de quem escreve)” (2003, p.265). Tal individualidade é garantida por meio
do
estilo
e do
tom
que o sujeito confere às palavras em cada enunciação, denunciando
sua apreciação ou, como denominou Jean-Michel Adam (2008,p.115) o seu “ponto de
vista” em torno do objeto do qual fala. Mas esta apreciação - reafirma-se - não diz
respeito única e exclusivamente a esse sujeito, responsável pelo ato enunciativo, ela é de
natureza dialógica, na medida em que se relaciona e, mais que isso, responde às
enunciações antecedentes, completando ou refutando os valores outrora expressos
acerca de um mesmo objeto e também dos interlocutores.
No caso do autor do livro didático de Português, ou, mais especificamente, do
autor responsável pela apresentação da literatura neste livro, o diálogo se manifesta a
partir das relações que o seu texto estabelece com os outros textos (tanto os acadêmicos
quanto os documentos oficiais) e, consequentemente, com as imagens que esses
mesmos textos constroem, cada um a sua maneira, acerca de um mesmo objeto, a
literatura, e dos destinatários que, no caso dos manuais estudados neste trabalho,
correspondem aos alunos das antigas quintas e sextas séries do ensino fundamental. De
acordo com Geraldo Tadeu Souza (2002), esse aspecto da expressividade corresponde à
relação do enunciado com o seu autor e com aqueles a que ele responde (cf. p.121).
Nesse sentido, a observação e análise da apropriação do texto literário por parte do autor
do livro didático permitirá dizer (acredita-se) qual a apreciação desse autor com relação
ao texto sobre o qual realizou o seu trabalho e com relação aos alunos aos quais se
dirigia; e, ainda, qual o seu posicionamento em relação aos outros discursos (sobretudo
aqueles oficiais) que giram em torno do mesmo objeto e destinatário.
Ainda a respeito da expressividade, ela é percebida por meio da
entoação
e do
estilo
empregado pelo locutor na composição de sua fala. A entoação consiste no nível
mais óbvio e, ao mesmo tempo, mais superficial da apreciação (Souza, 2002, p.131); ela
diz respeito aos aspectos sonoros que, em se tratando da escrita, são produzidos com o
auxílio da língua; é o caso, por exemplo, dos efeitos constituídos pelo emprego da
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