Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 907

satânico mago Caín impedindo, por meio da ingestão de remédios, que sua esposa
engravidasse. Esta não suporta mais a ausência de um filho e temendo sua loucura o
marido decide tê-lo. A família, ao vivenciar as constantes ameaças de Caín, que deseja
levar o menino, decide entregá-lo aos cuidados de um velho amigo Victor Kray. É este
um destemido dono de um farol e único sobrevivente de um naufrágio que há vinte e
cinco anos havia levado o mago Caín e sua trupe circense ao fundo do mar. Victor Kray
decide criar Jacob dando-lhe outro nome, Roland, e viver em constante vigília por temer
o retorno de Caín, visto que começava a vencer o prazo da dívida que Fleischmann
havia contraído com o mago.
A intertextualidade com os personagens bíblicos torna-se explícita na escolha
de nomes como
Jacob
e
Caín
, alusão a Jacó e Caim. Para tanto, faz-se necessário o
conhecimento desse texto de fundo cuja história e simbologia nos ajuda a elucidar a
trama literária intertextual elaborada pelo autor. Nesse sentido, tomaremos o estudo que
Isaac Stein apresenta dessas personagens bíblicas em sua obra
Malditos, malvados e
infames en la Biblia
(2009). Na introdução dessa obra, o autor nos coloca diante de um
questionamento relativista, ou seja, de um pensar dialético, ao sugerir que o “livro
sagrado” também pode ter dois pesos e duas medidas ao criar seus bandidos e seus
mocinhos, legando ao Ocidente toda uma concepção do mal e suas personificações por
meio de uma vasta construção ideológica ali presente. Como conceituar os malvados?
Essa é uma interrogação que Isaac Stein tenta responder com exemplos do próprio texto
bíblico. É o caso dos personagens Caim e Jacó, pois o primeiro poderia argumentar que
até o momento em que mata o irmão a única lei que havia sido decretada pelo Criador
era a do fruto proibido, que foi violada por Eva e Adão. Nesse linha de pensamento,
Caim poderia ter tido a chance de argumentar que desconhecia o caráter punitivo de seu
ato, visto que ele não havia sido prescrito como crime pelo Criador. Da mesma forma
que Caim, outros personagens, como Jacó, cometem atos condenáveis e não são punidos
da mesma forma. Assim, Isaac Stein (2009, p.17) nos faz recordar que
Itzjak
(Isaque), o
pai de Esaú e Jacó, cego e enfermo em seu leito de morte pede ao mais velho, Esaú, que
lhe prepare um prato com sua comida favorita para que possa receber a benção paterna.
Enquanto Esaú sai para caçar e cumprir as ordens do pai sua mãe,
Rivka
(Rebeca), em
acordo com Jacó, preparam um plano para enganar Isaque e beneficiar o filho mais
novo. Assim, Jacó passa-se por Esaú para receber a benção paterna no lugar deste.
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