Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 599

Destacamos dentro do exposto acima o romance
Se eu fechar os olhos agora
(Silvestre 2009), o qual narra predominantemente a trajetória de dois amigos, que, aos
doze anos de idade, vêem-se empenhados em desvendar o assassinato brutal de uma
mulher às margens de um lago. A trama tem como ambiente principal uma cidadezinha
da antiga zona cafeeira no interior do Rio de Janeiro na década de 1960, mais
precisamente no ano de 1961. As ações de Paulo e Eduardo, bem como as de outras
células narrativas que gravitam ao redor de ambos, são narradas tanto em monólogo
interior quanto em terceira pessoa, buscando produzir no leitor a sensação de
onipresença que o fagocita para dentro da estória, [...]
um modo de narrar calcado na
produção do efeito de neutralidade do discurso, o que produz a impressão de que a
história se narra a si mesma, em uma representação que atua como “espelho do real.”
(BULHÕES 2007, p. 197).
Ao abrir o capítulo, dividido em quatro
cenas
de ambientes distintos (lago –
delegacia – a casa de Paulo – o quarto de Paulo e Antônio),
As grandes montanhas e
áreas em sombra
percorrem pontes de sentido dialógico-representativas em torno de
montanhas
(o suposto imutável) e
áreas em sombra
(algo que se deseja encobrir devido
a sua natureza de cunho não civilizado). O discurso do narrador flui a princípio em
terceira pessoa, abrindo-se com “O lago, finalmente”, para em seguida orientar o olhar
do leitor/enunciatário para a construção das personagens principais, Paulo e Eduardo,
assim como o sentimento de união e cumplicidade em forma de amizade, que permeará
toda a narrativa do romance-reportagem e de formação do herói que fruirá
vigorosamente ao longo dos outros capítulos.
Semas como
lago,
atrelado a composições lexicais mais extensas como
levantar a cerca de arame para ajudar a passagem do outro, a descrição das bicicletas
dos meninos e de como as conseguiram, características físicas e psicológicas de Paulo
e Eduardo
são organizados em terceira pessoa que por vezes se confunde com a
primeira, sem pontuação definida, deixando a cargo do leitor/enunciatário compor a
tonalidade dialógica da enunciação em sua própria cognição sobre quem fala. À medida
que a narrativa evolui, delineiam-se no plano de expressão semas emblemáticos como
água, céu, vozes e sons, silêncio, consciência e o monólogo interior de Eduardo sobre
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