Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 593

Refutava lidar com a substância sempre igual de um sujeito, pois o entendia como
múltiplos rostos sem uma identidade essencial. Assim, em oposição à história
tradicional, propunha a história efetiva, que reduz o absoluto à relatividade do devir,
porque entendia os saberes produzidos como perspectivos, isto é, vistos de
determinados ângulos, que poderiam então explicá-los. Ou seja, uma crítica que
podemos fazer a nós mesmos no presente se levarmos em conta o passado. O que
percebemos nesse movimento é que a relatividade dos produtos históricos apontada por
Foucault, mostrando que não são objetos fixos para sempre, a relativização da verdade,
constituem-se num abrir de caminhos para a mudança, em vez de constituir-se em
imobilismo. O ceticismo dele é com relação à absolutização. E um pensamento que
aponta para a possibilidade é um pensamento de esperança. Se as sociedades mudaram,
a nossa pode também mudar.
Assim, a nossa submissão ao interdiscurso é algo de que não podemos fugir, mas
ao mesmo tempo, vivemos num tempo e num espaço que vão tecendo novas interações,
novas contradições, novas possibilidades, construindo novos horizontes. Criamos
discursos ou usamos palavras com base nos outros discursos e palavras que nos
antecederam. A vida cultural é uma série de discursos em intersecção com outros
discursos anteriores . Esse entrelaçamento intertextual tem vida própria: o que quer que
digamos transmite sentidos que não estavam ou possivelmente não podiam estar na
nossa intenção. Por isso é vão tentar dominar um discurso (ou texto), porque o perpétuo
entretecer de textos e sentidos está fora de nosso controle: a linguagem opera através de
nós e dela somos, em boa parte, reféns.
Se dela somos reféns, o que é possível fazer? Dessa aparente ‘paralisia’ sempre
pode nascer a reflexão. Bem- vinda ela seja! Mas para isso apenas bom senso não basta.
Se não somos ativos e não procuramos competência teórica, seremos sempre usados
pelos ‘bagaços’ e fragmentos das (in)competências teóricas com que os outros (antes de
nós) nos formaram e/ou deformaram. Se não nos conformarmos, podemos procurar
conhecer esses outros que antes de nós proferiram discursos que hoje repetimos, em
diferentes cronotopos. Ao nos defrontarmos com outros cronotopos, podemos nos
confrontar com uma cultura estranha, à qual não pertencemos e que possui pressupostos
com os quais podemos não concordar: através do contraste com este outro, podemos
perceber com maior clareza nossas idiossincrasias. Este parâmetro externo à nossa
mundivivência permite iluminar, por contraste, importantes aspectos de nossa
perspectiva cultural - dos quais poderíamos não estar conscientes, caso
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