Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 587

o capitalismo, a racionalidade financeira, também com o viés de um único significado,
exatamente como faz o discurso oficial de ‘direita’. A racionalização aparece no desejo
de se dominar o ‘método científico’, sem questionar o fato de estes métodos não terem
dado conta de emancipar o homem, mas de terem servido sim para dominá-lo, para
diferenciá-lo, para excluí-lo. O desejo de ‘hegemonia’ da classe trabalhadora aponta
também para o antagonismo, para a dominação de uma classe sobre a outra. Ora, se
pensarmos em termos de antagonismos, estaremos utilizando a mesma concepção de
razão instrumental que criticamos, a mesma vontade de verdade.
O acesso a uma educação comprometida com a classe trabalhadora revela a
crença na “possibilidade de uma educação e de uma escola não contaminadas pelas
distorções de uma sociedade capitalista e mercantil e de um estado interessado, em que
os ideais de emancipação, progresso e triunfo da razão de um sujeito autônomo e
racional poderiam ser cumpridos” (Silva, 1996:252).
O discurso da ‘esquerda’, representado pelo Sindicato dos Professores do
CEFET/Curitiba, ao fazer uma crítica severa dos excessos no tratamento das parcerias
feitas com o setor empresarial, que "leva a educação a ser orientada pela lógica do
mercado", não escapa da orientação monológica desse discurso, na busca de cultivar,
com perseverança, suas esperanças de vitória pessoal num universo cujas carências e
iniquidades eles são chamados a denunciar. Mas essas denúncias críticas, por se
restringirem ao campo político e ao voto à esquerda a que se acostumaram estar
associados, longe de pôr em risco ‘a lógica’ mercantilista, têm o efeito de otimizar o
funcionamento de um sistema que, além de se repetir pode também se vangloriar de
manter um monológico debate público que, de fato, nunca toca no essencial.
E o que seria esse ponto essencial que poderia ser discutido? Romper com ‘a
lógica’ do sistema parece uma resposta um tanto simplória, visto que não é tarefa fácil,
mas é um caminho possível. Difícil porque exigiria colocar em questão tudo o que nos
constituiu enquanto sujeitos, isto é, todos os discursos, todas as vozes que habitam em
nós, todos os elos profundos, todas as adesões carnais por meio das quais aderimos a
uma situação social que nos engendrou e condicionou a fazermos de livre e espontânea
vontade o que esperam que façamos.
As instituições funcionam como qualquer outro campo da área social, sob a
égide do que o professor Allain Accardo, da Universidade de Bordeaux - Paris, chamou
de impostura, no sentido de o dirigente só poder fazer o que faz, ou seja, contribuir para
a manutenção da ordem simbólica, fazendo de conta que não o faz, como se não
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