Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 595

"necessário" e "calculável" , mas
não
porque nele vigoram leis, e sim porque
faltam
absolutamente as leis, e cada poder tira, a cada instante, suas últimas consequências.
Acontecendo de também isto ser apenas interpretação - e vocês se apressarão em objetar
isso, não? - bem, tanto melhor! (1992, p. 28).
Mais importante ainda do que não se deixar levar pela tentação da interpretação,
o que acabaria por nos fazer desejar ‘a’ verdade, é a capacidade de percebermos o
plurilinguismo social em que estamos imersos e as forças produzidas por esse
plurilinguismo e que nos cercam, nos arrastam, nos obrigam a repeti-las, a reconhecê-
las, a adotá-las ou repeli-las, de forma consciente ou não: aquilo que Bakhtin chamou de
forças centrípetas e centrífugas da língua viva, desenvolvendo-se ininterruptamente. A
permanente tensão entre essas forças é o que forma a dinâmica da língua viva e, por
conseguinte, da cultura. Ao lado das forças centrípetas caminha o trabalho contínuo das
forças centrífugas da língua, ao lado da centralização verbo-ideológica caminham
ininterruptos os processos de descentralização e desunificação, formando uma explosão
de discursos que cercam cada atividade humana. Uma explosão de discursos que revela
que cada enunciação concreta do sujeito do discurso constitui o ponto de aplicação tanto
das forças centrípetas como das centrífugas, ou um plurilinguismo dialogizado,
anônimo e social como a linguagem, mas ao mesmo tempo concreto, saturado de
valores (1998, p. 82).
Convivendo em tensão permanente, essas diferentes formas de conceber o
mundo revelam as complexas dimensões dos modos pluridiscursivos de entender a
realidade. Perceber que existem é um passo importante para que se desconstrua a
vontade de verdade que nos acomete. O fenômeno da dialogicidade interna encontra-se,
segundo Bakhtin, manifesto em todas as esferas do discurso vivo e só quando as
divergências individuais e as contradições são fecundadas pelo plurilinguismo social é
que esse fenômeno se torna força criativa. Dialogizar a língua, porém, não é exercício
apenas semântico: é conceber linguisticamente o mundo, onde o diálogo de vozes nasça
espontaneamente do diálogo social das línguas, onde todos possam falar.
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