Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 603

Se o ver, o observar, o comunicar e o conviver com seus espelhos faz com que
o ente enxergue a si próprio voltando-se para seu interior em movimento centrípeto,
essa mesma agiografia também exerce uma coerção do ente de forma centrífuga ao
transformar, por meio do código
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e do repertório utilizados e a construção de imagens
que emanam dessas associações refletindo as iterações sócio-discursivas em palco de
um campo de forças sociais que modelam o homem a partir de seu entendimento das
mais diversas linguagens interagentes (literatura e oralidade, televisão e cinema, política
e religião, arte e comunicação...) como possíveis limites de seu mundo.
Dentro do gênero romance, na forma dos processos de identificação, projeção e
empatia com seus atores, actantes, objetos de desejo e suas ações dentro de cada uma
das células narrativas, ou como narrador/enunciador, ou ainda como leitor/enunciatário,
reescrevemos
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a nossa condição humana por meio da interação com o texto que nos é
primeiramente mostrado, para depois permitir que ele nos seduza ao mesmo tempo em
que nos abduz de modo semelhante a um produto de consumo do capitalismo marxista.
Encontramo-nos então diante da valência e do valor
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da obra de arte dentro da sociedade
capitalista da Cultura de Massa: o consumo de objetos de desejo como forma de se
reconhecer e ser reconhecido dentro das instâncias vigentes de poder.
Se por um lado a Grande Literatura hoje adquire por vezes o status de produto
de marketing a ser vendido, com toda uma gama de concursos, prêmios e outros
produtos agregadores de valor ao livro e seu autor, por outro ainda encontra-se nos
valores discutidos, nas questões universais contidas nas entrelinhas da obra literária, o
seu caráter atemporal e a denominação de arena de embate solitário do leitor consigo.
O romance visto por essa ótica, a de vetor do pensamento, configura-se em
veículo ideal para as impressões sobre o mundo factual que abduz seu escritor/repórter;
uma reflexão sobre a
realidade
social em um determinado momento sócio-histórico em
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Se na comunicação cotidiana a ambigüidade é excluída e na estética é proposital, nas comunicações de
massa a ambigüidade, ainda que ignorada, está sempre presente. (ECO 1984, p. 171)
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Todas as obras literárias, em outras palavras, são “reescritas”, mesmo que inconscientemente, pelas
sociedades que as lêem; na verdade, não há releitura de uma obra que não seja também uma “reescritura”.
[...] Os fatos são públicos e indiscutíveis, os valores são privados e gratuitos. ( EAGLETON 2006, p. 19).
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[...] a variabilidade das interpretações é a lei constante das comunicações de massa. As mensagens
partem da Fonte e chegam a situações sociológicas diferenciadas, onde agem códigos diferentes. (ECO
1984, p. 171)
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