Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 609

olhos. A voz, que anteriormente os acompanhava, distribuindo o escrito aos que
estivessem à volta do leitor, como faziam os gregos, é totalmente suprimida. Tal atitude
denota uma mudança de perspectiva em termos de compreensão do escrito, pois, se
antes, como vimos, era preciso pronunciar para ler, isto é, pronunciar para compreender
o que se lia, a partir da Idade Média passa a ser do silêncio a responsabilidade pela
compreensão.
Um modo de ler que atravessou séculos e chegou às bibliotecas do mundo atual.
Conforme Arena (2009), a imposição do silêncio tornou-se comportamento cultural
legado as novas gerações, aceito sem restrições. Porém, considerar a biblioteca, ainda
hoje, como local sagrado, apenas de guarda de livros, é algo difícil de sustentar. Pois,
espaço converteu-se em local de disseminação e distribuição de bens culturais. Assim, o
leitor que herda e aceita o traço cultural do passado, de ler apenas com os olhos,
ousa/titubeia romper com o silencio no novo conceito de biblioteca, conectada à
Internet, freqüentada por um grupo muito maior de pessoas, recinto de sociabilidade e
de disseminação de livros.
Portanto, quando falamos em sala de leitura e não em biblioteca, não queremos
criar um conceito antagônico ou distinto deste último, visto que poderíamos utilizar
outras nomenclaturas, a exemplo de Lugar dos livros, Espaço de Leitura, Cantinho da
Leitura, entre tantas outras. Na realidade, o intuito maior era o de encontrar um nome
que espelhe as atividades realizadas e as relações construídas na sala de leitura por nós
organizada, as quais, fundamentadas no diálogo, acarretaram em resultados altamente
satisfatórios.
Na perspectiva de Arena (2009), a utilização de termos correlatos se dá motivada
por uma fuga da acepção clássica que biblioteca ganhou ao longo dos tempos, de local
sisudo e pouco atraente, principalmente para os jovens, “mantido por muitos
psius
e
olhares severos” (ARENA, 2009, p. 161). Por isso, o que se fez ao longo de todo o
trabalho, desde a organização do espaço até as atividades de leitura, foi construir
relações em torno dos livros, por meio de seus sinais impressos, e dos sentidos a eles
atribuídos, pelos discursos dos autores e dos leitores, pela reunião de jovens que
desejavam estar juntos para dialogar sobre o que liam e para ler sobre o que dialogavam.
Para isso, não foi preciso abandonar a herança passada da leitura silenciosa, mas criar
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