Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 528

discursivos secundários são mais complexos e a comunicação é produzida a partir de
códigos culturais elaborados, como a escrita. Referem-se a outras esferas de interação
social, mais bem desenvolvidas, como discurso científico, teatro, romance, etc., os
grandes gêneros publicísticos, etc.
Para Bakhtin,
Todo estilo está indissoluvelmente ligado ao enunciado e às formas típicas de
enunciados, ou seja, aos gêneros do discurso. Todo enunciado – oral e
escrito, primário e secundário e também em qualquer campo da comunicação
discursiva – é individual e por isso pode refletir a individualidade do falante
(ou de quem escreve), isto é, pode ter estilo individual (2003, p. 265).
A individualidade na linguagem não é observada com tanta ênfase nos
gêneros do discurso que requerem uma forma padronizada, como, por exemplo, nos
documentos oficiais, de ordens militares. “Os estilos de linguagem ou funcionais não
são outra coisa, senão estilos de gêneros de determinadas esferas da atividade humana e
da comunicação” (BAKHTIN, 2003, p. 266). De acordo com a função (científica,
técnica, publicística, oficial, cotidiana) e a condição de comunicação discursiva,
específica de cada campo, geram determinados gêneros, isto é, determinados tipos de
enunciados estilísticos, temáticos e composicionais relativamente estáveis.
A característica do enunciado é entendida por Bakhtin como todo
enunciado que refuta, confirma, complementa, retoma e reavalia outros enunciados;
baseia-se neles, enfim, leva-os em conta, de alguma maneira. Assim, para o estudioso,
os gêneros são aprendidos no curso de nossas vidas como participantes de determinado
grupo social ou membro de alguma comunidade. Logo, pode-se inferir que gêneros são
padrões comunicativos, que, socialmente utilizados, funcionam com uma espécie de
modelos comunicativos globais que representam em conhecimento social localizado em
situação concreta.
Portanto, os gêneros discursivos são formas comunicativas que não são
adquiridas em manuais, mas sim nos processos interativos. A língua materna, seu
vocabulário e sua estrutura gramatical não são apreendidos por meio dos dicionários ou
manuais de gramática, mas por meio dos enunciados concretos que se ouve e se
reproduz na comunicação discursiva efetiva com as pessoas que rodeiam.
Quanto maior o conhecimento dessas formas discursivas, maior a
liberdade de uso dos gêneros: manifestação de uma postura ativa do usuário da língua
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