Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 526

língua é código, ele privilegia o ensino da ortografia. Então, escrever bem é apenas
grafar corretamente as palavras. Outras vezes, ele concebe língua como sistema e então
escrever bem é usar corretamente as regras gramaticais. Outras vezes, ainda, ele
concebe a língua como estrutura, portanto escrever bem é organizar o texto de modo
que ele apresente coesão e coerência entre as partes. Tudo isso é muito importante e não
se pode prescindir de nenhuma dessas visões sobre a língua ao ensiná-la. O professor
precisa ensinar ortografia, gramática, estrutura textual e discurso.
Nessa linha, as teorias da enunciação e do discurso, as vertentes sócio-
históricas da psicologia cognitivas e da psicolingüística, contribuem com uma nova
perspectiva de ensino e mudam a concepção formalista que predominava até a década
de 70 e ainda se encontra arraigada no ambiente escolar até os dias de hoje.
Dessa forma, não se pode conceber a noção de língua apenas como um
sistema considerando somente a sua estrutura interna, como uma construção acabada,
mas é preciso analisar como um elemento vivo, produzida na história e produtora da
história dos homens e que se revela e se constitui em enunciados nas diferentes
situações sociais.
O teórico da linguagem Mikhail Bakhtin afirma que se “lançarmos sobre
a língua um olhar verdadeiramente objetivo, [...] depararemos com a evolução
ininterrupta das normas da língua” (p. 90, 1986). A língua está em constante
transformação, de acordo com as mudanças que ocorrem na sociedade.
Conforme Bakhtin, “todos os diversos campos da atividade humana estão
ligados ao uso da linguagem” (2003, p. 261). Dessa forma, o uso da linguagem é tão
variado quanto o campo de atividade humana. A língua é empregada em forma de
enunciados orais ou escritos que são proferidos por diversas pessoas de variados
campos da atividade humana.
Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada
referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo de
linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional.
Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção
composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são
igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da
comunicação. (BAKHTIN, 2003, pp. 261-2610).
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