Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1078

as palavras como personagens e seres vivos de seu último livro,
Ouvrez,
cujo prefácio
vale ser examinado tendo como horizonte as análises de seu primeiro livro,
Tropismes
:
Palavras, seres vivos perfeitamente autônomos, são os protagonistas de cada um destes
dramas.
Logo que aparecem as palavras de fora, uma divisória é içada. Apenas as palavras
capazes de receber os visitantes convenientemente ficam deste lado. Todas as outras
desaparecem e são, para maior segurança, fechadas atrás da divisória.
Mas a divisória é transparente e os excluídos observam através dela.
Às vezes, o que eles veem lhes dá vontade de intervir, eles não se seguram mais, eles
gritam... Abram.
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As palavras são “seres vivos”, isto é, são dotados de uma força imanente que os
leva a irromper, a rebentar a “divisória transparente” que separa eixo paradigmático de
eixo sintagmático.
O que é excluído no eixo sintagmático são as imagens expressas por outras
palavras no eixo paradigmático, e são essas que gritam “
ouvrez
”, para que a sensação
seja expressa no tumulto que evoca seu sentido
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no eixo paradigmático.
Para Nathalie Sarraute, matéria romanesca e forma literária são correlativas.
Procurar alcançar os movimentos tropísticos na sua escrita supõe a produção de uma
forma literária única, que não repete modelos já existentes na história da literatura.
A forma literária, para Nathalie Sarraute, se traduz pelo desmantelamento das
categorias narrativas, como a intriga, o personagem e o narrador, pois elas remetem à
descontinuidade existente na oposição entre real e ficção. Os tropismos e a forma
literária se inscrevem na continuidade da experiência perceptiva do autor e do leitor
numa relação de reciprocidade estabelecida pela escrita.
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Tradução nossa.
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“(...) e enfim, existe um poder das palavras, porque trabalhando umas contra as outras, elas
estão ligadas à distância pelo pensamento como as marés estão ligadas à Lua, e no tumulto que evoca seu
sentido muito mais imperiosamente que se cada uma delas trouxesse somente uma significação langorosa
da qual ela seria o índice indiferente e predestinado. A linguagem diz definitivamente quando ela
renuncia a dizer a coisa mesma” (Merleau-Ponty 1960, p.55).
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