temos metáforas que formam oxímoros. Esses oxímoros se desenvolvem mais
precisamente no terceiro parágrafo, por meio de “quietude estranha” e “satisfação
desesperada”, pois expressam a intensidade das imagens antagônicas da “quietude” e do
“desespero”, que se sobrepõem, formando uma certa “ordem de sensações”, suportada
pela instância “eles” :
Uma quietude estranha, uma espécie de satisfação desesperada emanava deles. Eles
olhavam atentamente as pilhas de tecido da Exposição de Branco, imitando habilmente
montanhas de neve, ou ainda, uma boneca cujos dentes e olhos, em intervalos regulares,
se acendiam, se apagavam, se acendiam, se apagavam, se acendiam, se apagavam,
sempre em intervalos idênticos, se acendiam de novo e de novo se apagavam
.
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O sintagma “quietude estranha” intensifica a força que emana da instância
“eles”. Trata-se de uma força imanente que está associada à disposição de se agir sobre
o mundo – isto é, a paixão. As figuras da paixão são as “montanhas de neve”, que
estariam associadas à “quietude estranha”, e, também, à “boneca cujos olhos e dentes se
acendem e se apagam repetidas vezes”, que estaria por sua vez associada à “satisfação
desesperada”.
Por meio da superposição de imagens, isto é, do tratamento poético de imagens
banais, constroem-se os tropismos, que são, aqui, mais uma vez, o resultado de uma
força imanente agindo sobre a instância não-sujeito “eles”, que, de fato, só poderia ser
um não-sujeito, pois apenas uma instância sem poder de julgamento poderia sustentar
processos antagônicos, oxímoros, e uma força imanente.
A busca de Nathalie Sarraute é, portanto, a de encontrar a força imanente que
permite que uma palavra que não pode ser multifacetada no plano sintagmático, por
causa do seu desgaste, encontre, por meio do tratamento poético, imagens no eixo
paradigmático capazes de lhe fornecer a sensação única oriunda de uma forma que se
torna única pela sensação que expressa.
Os tropismos são, portanto, a expressão de uma força imanente contida nas
palavras, quando submetidas a uma certa ordem de sensações. Nathalie Sarraute coloca
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Grifo e tradução nossos.
