1. Mestrando do Programa de Pós Graduação em Estudos da Linguagem da UEL – Universidade
Estadual de Londrina (Bolsista da Fundação Araucária),
TIRA I
Durante um sonho, Mafalda irá fazer a representação simbólica da sopa como
uma re-significação da tortura exercida por militares em regimes ditatoriais. No
acontecimento enunciativo do sonho, é possível observar claramente as formações
ideológicas de classes antagônicas em enfrentamento. Mafalda, em sua imaginação,
concilia a realidade repreensiva sobre a população (a atitude autoritária contra as formas
de manifestação de operários carentes, com fome) a sua indesejada posição social
familiar, resignada a tomar sopa mediante a ordem materna. A presença inesperada da
mãe no contexto policial ( no terceiro quadrinho) evidencia o distanciamento entre ela e
sua mãe cuja formação ideológica (para a Mafalda) se adéqua à dos torturadores. Ela
assume assim, o pré-construído do
discurso popular
(querer distância de torturadores)
para manifestar-se contra esta subordinação, situação evidenciada no último quadrinho.
Poderia haver ambigüidade na interpretação do enunciado sem contexto, se a formação
discursiva de Mafalda não estivesse clara ao leitor. A sopa poderia ser ao invés de
tortura, um ato benevolente de militares, o que não ocorre.