movediço; ela precisava dos ambientes dos cafés para vivenciar a sua escrita enquanto
experiência sensível.
Segundo Nathalie Sarraute, o escritor deve “descobrir sua forma única”. Se nós
traduzirmos o pensamento de Nathalie Sarraute, nós podemos dizer que ele deve refletir
sobre a forma literária enquanto figura de uma força interna. Nesse sentido, ele precisa
ser leitor dele mesmo, isto é, “um leitor ideal” (descrito no final da obra de Nathalie
Sarraute intitulada
Les Fruits d’Or
) que esteja em contato com o texto, como acontece
com o escritor retratado na obra
Entre la Vie et la Mort
da mesma autora.
O “leitor ideal” seria, para Sarraute, aquele que, por meio de um processo de
reconhecimento, compartilha da experiência singular do autor, graças à experiência
universal da força imanente percebida pelo corpo e, em seguida, comunicada pelo autor.
Por meio da voz que o leitor faz sua, ele efetua a experiência perceptiva do autor.
A voz do autor é expressa pela forma literária. Nathalie Sarraute dizia que a
experiência dos textos supõe sua leitura em voz alta, como se a forma fosse ouvida –
que ela fosse sonora – voz do texto, isto é, voz do autor, voz que está no presente da
leitura, reciprocidade da experiência entre leitor e autor.
Não há descontinuidade entre a experiência do autor e a experiência do leitor,
assim como não há separação entre real e ficção. Nathalie Sarraute dizia ainda que nós
podemos “matar as palavras” se a forma literária não é única, nova, isto é, se ela for
uma repetição de modelos literários já existentes. Se um escritor utiliza a forma literária
de um outro escritor, ele se situa numa relação de descontinuidade entre o real e a
ficção. Relação que é absolutamente artificial, pois ela não é reveladora da sua própria
força imanente, que deveria sustentar o ato de escrever.
Para Nathalie Sarraute, a escrita era uma espécie de “transe” ou “dança”, pois a
forma literária única que ela buscava se situava numa perspectiva dinâmica, resultante
de uma experiência sensível na expressão de uma certa “ordem de sensações” que
nossas análises revelaram ser uma figura da força imanente compartilhada pelo trabalho
da escrita.